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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Obama quer terminar o serviço no Afeganistão

Obama quer terminar o serviço no Afeganistão

“Nós iremos terminar o serviço”, assegurou o presidente Obama, falando do Afeganistão em 1 de dezembro na Academia militar de West Point. Ele apresentou o que consistia seu plano e, em particular, o número de soldados que decidira enviar a mais ao Afeganistão.Porque uma questão já está certa, longe de orientar a retirada das tropas estadunidenses e dos outros países da OTAN, o presidente as quer reforçar “para terminar o serviço”.
Qual serviço? Estabelecer a democracia? A farsa sinistra das recentes eleições demonstraram o que é o regime das forças de ocupação. “Karzai é corrupto, mas é nosso homem”, explicava Bernard Kouchner da OTAN, e Hillary Clinton acrescentou “Há senhores da guerra e senhores da guerra”.
Sinal da profundidade da crise da cúpula do governo dos EUA, foram realizados nove conselhos de guerra, reunindo em torno de Obama os chefes militares, os ministros de defesa e dos negócios estrangeiros para que uma decisão fosse tomada contra a vontade da crescente maioria do povo dos Estados Unidos.
Além do Afeganistão – e no Paquistão já diretamente envolvido na guerra – é toda a Ásia que vai receber diretamente as conseqüências da decisão dos EUA. Um especialista britânico de questões militares escreveu a este respeito: “O presidente Obama deve preparar os EUA e o mundo para o fato de que o número de vítimas estadunidenses, mas também dos aliados, afegãoes e paquistaneses, vai certamente dobrar, triplicar”.
Além da Ásia, o mundo. Quando Obama informou que tinha tomado uma decisão, ele acrescentou que discutiria com seus aliados “suas obrigações”. Obrigações inscritas na Carta da OTAN que a União Europeia integra nos seus tratados constitutivos.
O caminho às guerras, aos massacres, aos ataques contra todos os povos se acelera. A ação dos povos dirigida contra as guerras e a exploração constitui a única força capaz de se opor a esta destruição.

O custo crescente da guerra

Existe atualmente 68.000 soldados dos EUA no Afeganistão, incluindo os 21.000 que Obama enviou no início de 2009. Ao mesmo tempo 100.000 soldados estão no Iraque. O custo do envolvimento estadunidense no Iraque e no Afeganistão deve chegar este ano a um trilhão de dólares. Mais de 900 soldados já foram mortos no Afeganistão, onde o custo médio das operações militares chega a mais de 3 bilhões de dólares por mês. É estimado que cada soldado colocado a mais representa um custo de um milhão de dólares por ano.
Stephen Walt, professor da universidade de Harvard, estima em 100 bilhões de dólares por ano o custo do aumento das tropas. E segundo pesquisa do Instituto Gallup, 73% dos estanidenses estão preocupados com os gastos da guerra (OESP, 6/12/09). De onde virá esse dinheiro? Ele vem dos cortes de orçamentos em despesas sociais, de educação, da saúde. As mais recentes sondagens mostram que mais de 50% do povo estadunidense se opõe à continuidade da guerra.

O abismo afegão

Com este título em 6 de setembro o jornal The New York Times publicava informações de antigos agentes da CIA que operavam na região do Afeganistão e Paquistão, que alertavam para as conseqüências do envio de reforços á região. “O que os políticos parecem não querer compreender, é que a presença mesma das forças armadas nas zonas pashtuns (etnia majoritária da população afegã) é que é o problema. Quanto mais enviamos tropas, mais forte fica a oposição”.



sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Há vinte anos caía o Muro de Berlim

Todos os grandes do mundo foram vistos em berlim no dia 9 de novembro. Estavam quase todos lá, chefes de estado em exercício, representantes da ONU, da União Europeia... sem esquercer alguns dos veneráveis anciãos que foram os protagonistas, involuntários, dos eventos que abalaram o mundo há vinte anos. Estavam lá G. Bush (pai) dos EUA, M. Gorbatchov (na época dirigente da extinta União Soviética), Kohl (chanceler da Alemanha Ocidental em 1989) para celebrar a “era das “revoluções pacíficas” e o fim da “ameaça” do socialismo. Todos estavam lá, os assassinos do passado como os agentes da antiga Stasi (polícia política da Alemanha Oriental), agora reconvertidos e juntos com os assassinos de hoje, aqueles que agora defendem o reforço das tropas alemãs aos lado dos Estados Unidos no Afeganistão. Tudo sob o patrocínio de Barack Obama, o novo senhor da guerra.
Se eles não puderam evitar render homenagem ao povo alemão, o ator principal dessa transformação, eles tentaram esconder que muitos deles há vinte anos eram contra a reunificação alemã. Esses políticos, burgueses e stalinistas, estavam em acordo para “reformar” a Alemanha Oriental (RDA, República Democrática da Alemanha), de maneira que se pudesse prolongar sob novas formas os Acordos de Yalta e Potsdam no fim da Segunda Guerra (1945).
Todas as facções do aparelho stalinista, do PCUS (Partido Comunista da União Soviética) ao SED (Partido stalinista que dirigia a Alemanha Oriental), unidos para tentar “controlar”, do lado leste, a entrada da economia de mercado com o objetivo de salvar seus privilégios de burocratas e escapar do naufrágio que eles mesmos haviam provocado. Agiam para restaurar o capitalismo e destruir a economia social contra os trabalhadores.
Todos os partidos da burguesia alemã, assim como os dirigentes da social-democracia, que despacharam Oskar Lafontaine com o comitê central do SED (partido social-democrata alemão, reformista) mantinham-se firmes sobre a posição de manter as duas Alemanhas.
Como os pastores protestantes e padres que se aferraram até o dia 9 de novembro à política de “reformas” da RDA.
Mas todo este edifício foi abalado pela formidável irrupção das massas, que recordaram a todos os que haviam esquecido: “Wir sind ein Volk!” (Nós somos um único povo). E se Kohl foi o primeiro a mudar de posição, sabemos que o fez porque se adiasse mais, arriscava-se a tudo explodir. Tudo... a leste e a oeste. A vinte anos o povo alemão reunificava a Alemanha. Certamente, as belas paisagens que o chanceler prometeu ao povo não apareceram. A ditadura policial irrespirável caiu. Mas 80% da indústria do leste da Alemanha foi privatizada, vendida ou destruída. O desemprego cresceu a níveis elevados nos antigos Lander (estados) do leste. Os capitalistas se aproveitaram deste fluxo forçado de mão-obra disponível, provocado pela pilhagem das propriedades sociais do leste e pelo avanço da desregulamentação do trabalho do oeste. Tudo isto é verdade, mas a classe operária alemã está novamente unificada e organizada na poderosa confederação sindical DGB para enfrentar os ataques que se abatem sobre a Alemanha como sobre toda a Europa.

Angela Merkel, atual chanceler da Alemanha, deveria ter triunfado neste 9 de novembro em Berlim. A festa não foi este triunfo. A frágil coalizão de governo (CDU-FDP) entrou em crise com o anúncio de que a empresa automobilistica GM havia recuado da venda da Opel, que era apoiada pelo governo e buscava conter o avanço da crise econômica no país. O governo alemão se viu humilhado por seu amigo, o imperialismo estadunidense. Poucos viram que a aparente ampla vitória de Merkel nas eleições só foi possível graças a enorme abstenção de mais de 6 milhões de eleitores do SPD, tomados de revolta contra a política traidora dos seus dirigentes politicos.

Cronologia dos eventos

1945-1990, do fim da guerra à reunificação da Alemanha
1945 – os aliados da 2ª Guerra (URSS, EUA, Inglaterra e França) decidem na conferência de Ialta e Potsdam dividir a Alemanha em quatro zonas de ocupação. Berlim, situada na zona soviética de ocupação, é também dividida em quatro zonas.
1948 – em plena guerra fria, Stalin decide bloquear Berlim. Os ocidentais decidem organziar uma grande ponte aérea para manter a parte de Berlim isolada.
1949 – constituição dos dois estados alemães. No oeste é proclamada em maio a RFA (República Federal da Alemanha) e o no leste surge a RDA (República Democrática da Alemanha) em 8 de outubro.
16 de junho de 1953 – insurreição operária em Berlim Leste é esmagada
1955-1960 – a fuga de alemães do leste aumenta. Eles fogem da ditadura burocrática e do nível de miséria que aumenta
13-21 agosto de 1961 – sob as ordens dos burocratas stalinistas é construido um muro isolando os dois setores de Berlim

A queda do Muro

9 de outubro de 1989 – 70.000 trabalhadores e jovens se manifestam na cidade de Leipzig dizendo: “Nós somos um único povo”, “abaixo o Muro, eleições livres, democracia”. É a primeira das grandes manifestações que começam em setembro e que vão reunir semana após semana, mais e mais pessoas, estudantes e operários das fábricas em um número crescente de cidades.
16 de outubro de 1989 – 120.000 trabalhadores Leipzig e nas principais cidades do leste se manifestam
23 de outubro – 300.000 se manifestam em Leipzig, 300.000 em Dresden. Milhares seguem para Berlim Leste. Bandeiras vermelhas aparecem nas manifestações. Todos cantam a Internacional.
23 de outubro de 1989 – Erich Honecker, dirigente do país, renúncia e é substituido por outro burocrata, Egon Krenz.
7-9 de novembro de 1989 – dezenas de milhares de berlinenses do leste e do oeste se dirigem ao muro e abrem várias passagens. A polícia do leste não atira e seus dirigentes não aceitam as ordens do governo e das forças de ocupação soviéticas. O muro de berlim havia caído.
3 de outubro de 1989 – conclui-se o tratado de unificação das duas Alemanhas

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A ecologia à serviço do capitalismo

A ecologia à serviço do capitalismo

A defesa do meio ambiente contra o aquecimento global parece ter se tornado um grande consenso mundial, acima da luta de classes. Uma conferência mundial patrocinada pela ONU para dezembro discutirá o tema. No Brasil o governo Lula encaminha a revisão do código Florestal e a candidata do partido Verde, senadora Marina Silva, adota a ecologia como seu principal tema de campanha (ver box). Mas todos contornam o principal problema e ameaça ao meio ambiente: a manutenção do capitalismo. As notas abaixo trazem informações para que os trabalhadores e a juventude reflitam e se posicionem.

No Brasil o debate sobre o clima está diretamente ligado a questão da terra, isso porque se calcula que 75% das emissões de gás carbônico venham da devastação florestal. O decreto 6686/2008, que está sendo rediscutido e pode ser revisto, determina que os proprietários apresentem até 11 de dezembro deste ano planos de cumprimento da legislação para recomposição das áreas de preservação de florestas. Na Amazônia isto representa 80% da reserva legal e no restante do país 20% do total da propriedade. Por pressão dos latifundiários o prazo pode ser prorrogado para o meio do ano que vem. Além disso, uma reformulação do Código Florestal de 1965 prevê a criação de um verdadeiro mercado de destruição das florestas, com cotas que poderiam ser compradas por quem desmatou tudo. Por exemplo, um grande plantador de cana-de-açúcar poderia comprar cotas de quem desmatou menos. Hoje existem conhecidas cerca de 5 milhões e 170 mil propriedades rurais no país.

O pacote ambiental (Política Nacional sobre Mudança do Clima) que o governo pretende aprovar, até o final do ano, e que vem sendo comandado pela bancada ruralista, tramita no Senado e foi aprovado em 27 de outubro na Câmara dos deputados. Ele preserva os interesses dos grandes capitalistas do campo (o agronegócio), e na prática cria obstáculos para o avanço da reforma agrária em nome da preservação do meio ambiente. A proposta agrada ao agronegócio porque incentiva o uso dos biocombustíveis (hoje extraído principalmente da soja) e o plantio de árvores não nativas (empresas de celulose, papel) em parte das áreas de reflorestamento, produtos que exigem altos investimentos.

O esforço do governo para aprovar uma nova legislação ambiental está ligado a realização da Conferência Climática patrocinada pela ONU ocorrerá em dezembro na cidade de Copenhague (Dinamarca). Esta tem como objetivo estabelecer novas metas para combater o aquecimento global e aprovar um novo “pacto” global sobre o clima. O governo do Brasil pretende aprovar um mecanismo que preveja que o desmatamento evitado de florestas seja considerado redução de gases que provocam o efeito estufa. Esta medida poderia no futuro gerar créditos em um mercado especulativo de gases poluentes.


O mercado da poluição e o Protocolo de Quioto


O protocolo de Quioto foi adotado por 159 países em dezembro de 1997 e tem o compromisso de 39 países industrializados de reduzir a emissão de seis gases (como o gás carbônico ou CO²) que provocariam o efeito estufa responsável pelo aquecimento global. O protocolo entrou em vigor em fevereiro de 2005. Nos países de economias pouco ou recém industrializadas como Brasil, China e Índia, não foram estabelecidas metas de redução. Com isso, se os preços das cotas para emitir CO² for muito caro para uma indústria na Europa, ela pode simplesmente fechar e ser transferida par ao Brasil em busca de salários mais baixos e sem limites para poluir. Ou seja, a defesa do meio ambiente torna-se uma desculpa para fechar fábricas ou reduzir direitos dos trabalhadores.

A emissão na atmosfera do gás carbônico seria o principal responsável pelo aumento de temperatura? Os cientistas não estão de acordo sobre esta questão, mas decisões já foram tomadas. Os dirigentes da ONU discriminaram e afastaram dos debates os cientistas que não concordavam com a tese de que o aquecimento global era provocado apenas pelas emissões de gases poluentes. Para esses cientistas é muito cedo para comprovar que é o gás carbônico o principal responsável pelas alterações climáticas e o aquecimento global. Eles afirmam que existem muitos fatores que interferem no aquecimento do clima, como a própria água dos oceanos que evapora CO² e lembram que o gás carbônico representa apenas 0,038% da atmosfera. Embora não haja consenso entre os cientistas, os capitalistas perceberam que o debate sobre o efeito estufa e o aquecimento global é uma forma de turbinar seus negócios.

Foi criado um mercado de trocas de cotas de emissão de gás carbônico nos países com indústrias poluentes e esses países estabeleceram metas de redução de CO². Assim, os países e as indústrias têm “direitos de poluição” em toneladas de carbono, que podem trocar ou vender. Criou-se uma falsa solução - um sistema que seria regulado pelos próprios mercados - para que os capitalistas ganhem dinheiro na especulação financeira com a redução dos gases que supostamente provocam o efeito estufa (aquecimento global).

Entidades como o Greenpeace a uma constelação de ONGs ocupam aí todo o seu lugar, disputando verbas da ONU e outros organismos para defender campanhas e sugar recursos dos estados. Reforçam a onda dos “produtos ecológicos” que se utilizam do fantasma do efeito estufa e do aquecimento global para vender mercadorias “limpas”. Campanhas de marketing passaram a vender uma boa imagem das empresas que estariam defendendo o meio ambiente em nome da “responsabilidade social” e do “desenvolvimento sustentável”.

Tenta-se culpar todos igualmente, como se o trabalhador que pega ônibus ou carro para ir trabalhar tivesse a mesma responsabilidade o grande capitalista industrial. Como se o latifundiário que devasta a Amazônia para vender madeira tivesse o mesmo papel que o trabalhador sem-terra que planta para sua sobrevivência. O capitalismo fez com que a relação dos homens com natureza se transformasse hoje em uma relação não só de exploração dos trabalhadores, mas de destruição crescente do meio ambiente.



Marina Silva e o consenso ecológico com a burguesia


Embora afirme discordar da política do governo Lula para o meio ambiente, Marina Silva reforça o discurso ambientalista que não responsabiliza a burguesia e o capitalismo pela degradação do meio ambiente. Como é possível um “desenvolvimento sustentável” mantendo o capitalismo? A burguesia se utiliza da ciência, da técnica, da ecologia não para melhorar as condições de vida dos seres humanos, mas para ampliar a acumulação de capital. Ao sair do PT Marina saiu de um terreno privilegiado de disputa no interior da classe trabalhadora. A sua chapa presidencial tende provavelmente como vice o presidente na empresa de cosméticos Natura é um exemplo concreto da utilidade do discurso ambientalista à serviço da acumulação de capital. A luta ambientalista separada da luta de classes contra o capital torna-se não apenas um discurso diletante, mas um instrumento a serviço dos interesses do capitalismo.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

abramo-sacchetta-jot

 

HOMENAGEM A FÚLVIO ABRAMO E HERMÍNIO SACCHETTA

DIA
19 DE OUTUBRO, SEGUNDA FEIRA 19.30 horas – Auditório Vladimir Herzog do
Sindicato dos Jornalistas – Rua Rego Freitas , 530-  Sobreloja – São
Paulo –

Após o ato haverá pequena confraternização.

 

 

O Combate ao Fascismo

 

No início da década de 1930 no Brasil um grupo de militantes do Rio e de São Paulo combatia o fascismo e trazia ao debate as noticias do terror stalinista que se desenvolvia na União Soviética e nos Partidos Comunistas da europa. Esse grupo se organizava na Liga Comunista Internacionalista –LCI e estava em contato permanente com Leon Trotsky e a Oposição de Esquerda Internacional. Dentre os militantes paulistas figurava  Fúlvio Abramo , um jovem de 24 anos que conseguiu com seus camaradas, num trabalho político de mais de um ano, coesionar numa Frente Única Anti-Fascista dezenas de sindicatos, entidades de imigrantes italianos com a Lega Lombarda, jornais operários de diferentes idiomas, socialistas, anarquistas, comunistas além do apoio de intelectuais e artistas como Anita Malfatti. Essa Frente foi capaz de organizar dezenas de militantes que dispersaram a bala mais de 4 mil integralistas que marchavam uniformizados e armados pelo centro da cidade e que tinham como  objetivo impor a “ordem” fascista nas ruas como ocorrera na Alemanha e Itália.  Foi chamada de “A Batalha da Praça da Sé” e provavelmente é um dos poucos exemplos internacionais do período onde foi construída  a necessária unidade operária e democrática para varrer o fascismo. Nesse mesmo dia, 07 de outubro de 1934, o principal dirigente do PCB de São Paulo, outro jovem de 24 anos, Hermínio Sacchetta, travava já a luta interna contra a direção majoritária do PCB do Rio que impunha o isolamento dos comunistas seguindo a política que levou a derrota dos trabalhadores na Alemanha e em toda a Europa abrindo o caminho para Hitler. Sacchetta vai ser expulso do PCB em 1937 e adere ao trotskismo anos depois. Os dois militantes foram presos pela ditadura Vargas, perseguidos e lançados na clandestinidade.

 

Com a dispersão e crise da IV Internacional nos anos 1950 sua vida desenvolve tragetórias diferentes. Ambos jornalistas respeitados dedicam-se a sua profissão e continuam , na medida do possível, a atividade política. Saccheta mantém um pequeno grupo luxemburguista e nos anos 1960 combate a ditadura ajudando a resistência clandestina. Abramo dirige uma importante greve de jornalistas em 1961. Em 1980 aos 71 anos de idade os dois se encontram na mesa de um ato público em homenagem a Leon Trotsky em São Paulo, organizada por O Trabalho e Convergência Socialista que reúne centenas de jovens militantes que fundaram o PT naquele ano.  Hermínio Sacchetta morre dois anos depois. Fúlvio Abramo vai organizar o Cemap (Centro de Documentação do Movimento Operário Mario Pedrosa) e retoma o laço organizado com a IV Internacional fazendo parte da Direção Nacional de O Trabalho em 1986. Morre em 1993.

 

Ato Público

 

Para retomar os fatos  e homenagear a tragetória militante dos dois camaradas que no dia 19 de outubro, segunda -feira em São Paulo será realizada um ato público pela passagem do centenário de seu nascimento.  Organizado pelos filhos e netas Marcelo e Paula Abramo (vindos especialmente do México para a ocasião),  Vladimir e Paula Sacchetta e pela Corrente O Trabalho do PT – Seção Brasileira da IV Internacional o evento contará com a presença na mesa do professor da USP e crítico literário Antonio Candido, do presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo Guto Camargo, de Dainis Karepovs do Cemap e de Markus Sokol em nome da Direção Nacional de O Trabalho. Apóiam a iniciativa o Sindicato dos Jornalistas e o vereador paulistano do PT Antonio Donato.

 

 

Mais que uma homenagem merecida pelo papel que esses dois camaradas desempenharam em diferentes períodos da história do movimento operário brasileiro o evento deverá traçar o fio de continuidade da luta dessa geração dos anos 1930 com os dias atuais. As condições em que ambos militaram no Brasil colocavam os trotskistas numa condição que invariavelmente  o isolamento e a perseguição stalinista era a marca. Hoje nós trotskistas, apesar das dificuldades, estamos em outro momento, numa condição mais favorável  no combate pela independência de classe e de defesa das organizações dos trabalhadores. Assim esperamos poder estar a altura do esforço dessa geração de militantes como Fúlvio Abramo e Hermínio Sacchetta. Para nós,  sem sombra de dúvida,  é uma grande  honra poder participar dessa homenagem

 




sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Homenagem a Fúlvio Abramo e Hermínio Sacchetta

Venha celebrar o centenário dos militantes Fúlvio Abramo e Hermínio Sacchetta e o 75º aniversário da Batalha da Praça da Sé em um ato-homenagem à sua memória e história de dedicação à luta revolucionária internacionalista.

com Antonio Candido e Dainis Karepovs


SEGUNDA-FEIRA, DIA 19 DE OUTUBRO
A PARTIR DAS 19H30

Auditório Vladimir Herzog,
Sindicato dos Jornalistas
Rua Rego Freitas, 530, sobreloja




FÚLVIO ABRAMO (1909-1993) foi jornalista, agrônomo e militante trotskista. Interessou-se pela luta social a partir da relação com o avô Bôrtolo Scarmagnan, que permitiu-lhe o primeiro contato com o pensamento anarquista. Antes de cumprir vinte anos (1928) conformou, com a irmã, Lélia, e o Azis Simão, um grupo marxista independente do PCB. Pouco tempo depois, fundou, junto com Mário Pedrosa, Lívio Xavier, Aristides Lobo, Hilcar Leite, Rodoldo Coutinho, Rudolf Josip Lauff e João da Costa Pimenta, a Liga Comunista Internacionalista, seção brasileira da Oposição de Esquerda trotskista, chegando a formar parte da sua Comissão Executiva. Fúlvio haveria de permanecer fiel ao trotskismo até o momento da sua morte. Em 1933-34, quando a LCI empenhou-se na luta antifascista, foi diretor do jornal O Homem Livre, porta-voz do antintegralismo, e, depois, foi eleito diretor da Coligação das Organizações Operárias que conformavam a base da Frente Única Antifascista, que conseguiu dispersar os integralistas na histórica "Batalha da Praça da Sé," contra-manifestação armada na Praça da Sé, em São Paulo, no dia 7 de outubro de 1934. Preso em duas ocasiões (1934 e 1935) pelo Estado Novo, viu-se obrigado a fugir para a Bolívia junto com mais três camaradas. Permaneceu na Bolívia até 1946, trabalhando como motorista, cobrador de impostos e professor de Botânica Aplicada. A militância não se deteve no exílio. Com o nome de Marcelo de Abiamo, participou na fundação do Partido Obrero Revolucionario na Bolívia. Em 1961 liderou a greve do Sindicato dos Jornalistas, que conseguiu histórica vitória. Após o golpe, trabalhou provisóriamente como agrônomo numa fazenda de Barretos, SP. Em 1965 conseguiu finalmente voltar à imprensa, com um emprego de redator e repórter na revista Realidade, da Editora Abril; anos depois, trabalhou como redator no Diário do Commércio e na Gazeta de Pinheiros. Nos anos 1980 esteve junto ao movimento de construção do PT e retoma sua militância trotskista participando da Direção Nacional da Corrente O Trabalho do PT, seção brasileira da 4ª Internacional. Dedica seus últimos anos de militância no trabalho de preservação da memória da classe operária como impulsionador do Centro de Documentação do Movimento Operário Mário Pedrosa (CEMAP), hoje sob guarda do CEDEM-Unesp.




HERMÍNIO SACCHETTA (1909 – 1982) foi jornalista e militante trotskysta. Iniciou sua carreria profissional em 1928, como revisor do Correio Paulistano, passando depois por importantes jornais daquela época como a Folha da Manhã, a Folha da Noite, os Diários Associados e O Tempo. Para a militância política entrou em 1932, no Partido Comunista onde se tornou editor do Jornal A Classe Operária, secretário do Comitê Regional São Paulo e membro do Bureau Político. Foi um dos articuladores da greve dos Correios e Telégrafos em dezembro de 1934, caindo a partir daí na clandestinidade. Nesse mesmo ano sob pressão da juventude comunista, entra conflito com a linha do PCB, que não participa da Frente Única Antifascista, e orienta os militantes a participarem da "Batalha da Praça da Sé". Em novembro de 1937, Hermínio, codinome Paulo, em meio a uma luta interna no partido, é acusado de fracionismo trotskista e expulso do PCB. Constitui com o Comitê Regional de São Paulo a Dissidência Pró-Reagrupamento da Vanguarda Revolucionária. É delatado pelo stalinismo ao vivo pela rádio Moscou e preso e quase dois anos depois, quando sai da cadeia torna-se dirigente do recém-fundado Partido Socialista Revolucionário (PSR), então seção brasileira da 4ª Internacional junto com inúmeros camaradas como Febus Gikovate, Alberto da Rocha Barros, Vítor Azevedo, Patricia Galvão (Pagu), Florestan Fernandes, Maurício Tragtenberg entre outros. Ao longo de toda sua vida dedicou-se à militância e ao jornalismo.
Cláudio Abramo, seu companheiro de redação no Jornal de São Paulo, recordaria: “Sacchetta foi durante muitos e muitos anos um dos melhores e mais importantes chefes de redação que o jornalismo de São Paulo produziu. Homem de princípios rígidos, (...) travou sempre com a profissão de jornalista uma batalha árdua e difícil, enfrentando ao mesmo tempo os empregadores e a redação, que ele tentou incansavelmente moldar e domar”


A BATALHA DA PRAÇA DA SÉ - FRENTE ÙNICA ANTIFASCISTA (7 DE OUTUBRO DE 1934) - Também conhecida como "Revoada dos galinhas-verdes" foi o confronto que teve lugar na Praça da Sé, em São Paulo, em 7 de Outubro de 1934. Nesse confronto trotskistas, anarquistas, socialistas, comunistas, sindicalistas organizados na Frente Única Antifascista, se posicionaram contra a realização de uma marcha organizada pela Ação Integralista, organização que congregava correntes reacionárias e fascistas, dirigida por Plínio Salgado. Nesse confronto armado morreu o militante da juventude comunista, Décio Pinto de Oliveira, estudante da Faculdade de Direito de São Paulo, Largo de São Francisco. Décio foi alvejado na cabeça enquanto discursava. Ele passou a ser o símbolo do movimento antifascista brasileiro daqueles anos. Também ferido foi o militante trotskista Mário Pedrosa, enquanto tentava socorrer o jovem militante comunista atingido. Como narrou Lélia Abramo "Enfrentamos, com armas nas mãos ou sem elas, a organização fascista integralista, comandada por Plínio Salgado. Os integralistas estavam todos fardados, bem armados, enquadrados e prontos para uma demonstração de força, protegidos pelas instituições político-militares getulistas e dispostos a tomar o poder. Nós, espalhados ao longo da praça e nas ruas adjacentes, esperamos pacientemente que desfilassem primeiro as crianças, também fardadas, e as mulheres integralistas. Depois disso, quando os asseclas de Plínio iniciaram seu desfile, nós todos avançamos e começou a luta aberta."


Organização:
Corrente O Trabalho do PT, seção brasileira da 4ª Internacional
Marcelo e Paula Abramo
Vladimir e Paula Sacchetta

Apoio:
Gabinete do Vereador Antônio Donato, PT
Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de SP

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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

LEITURAS DE VEJA Uma revista megalômana

Por Luiz Antonio Magalhães em 29/9/2009

A última edição do semanário mais lido do Brasil (nº 2.132, com data de capa de 30/9/2009) é a prova concreta de que muita coisa está errada neste país. O pessoal que trabalha no Itamaraty, por exemplo, não está dando expediente no lugar certo. Chanceler e diplomatas de carreira deveriam todos bater ponto no modernoso prédio da Marginal do rio Pinheiros, em São Paulo, ou mais precisamente, para quem não conhece, na sede da Editora Abril, responsável pela publicação de Veja.

Sim, porque a matéria de capa desta semana – reproduzida abaixo e que levou o inspirado título "O imperialismo megalonanico", um trocadalho horroroso perpetrado pelo jornalista Reinaldo Azevedo, blogueiro da revista – é uma das coisas mais arrogantes já publicadas na imprensa brasileira.

A julgar pela reportagem de capa da revista, a turma de Veja deveria assumir imediatamente o comando do Itamaraty ou, se isto for pouco, tomar conta logo do Palácio do Planalto, que é onde as coisas são decididas. O tema da matéria, como o leitor já deve imaginar, é a participação brasileira na crise em Honduras, onde o presidente legitimamente eleito está refugiado na embaixada brasileira enquanto o governo golpista tenta negociar alguma saída que evite a volta de Manuel Zelaya ao cargo que lhe é de direito.

Para os editores de Veja, porém, a situação é bem diversa. Ponto um: a política de relações exteriores do governo federal está errada e o Itamaraty se submeteu à lógica do presidente venezuelano Hugo Chávez. Ponto dois: o golpe de Estado em Honduras foi uma "medida justificável". Para ninguém dizer que se trata de uma interpretação deste observador, cabe reproduzir o que foi escrito na revista:

"Houve um golpe de estado? Sim. País pequeno e pobre, Honduras foi transformada num caso exemplar do repúdio da comunidade internacional aos golpes de estado. Foi castigada com sanções econômicas e congelamento nas relações diplomáticas. Exceto por isso, o problema não era tão grande. A medida de força foi, até certo ponto, justificável pelas leis do país. Até o momento do golpe, o maior perigo para a democracia era o presidente Manuel Zelaya."

Argumento dispensável

Pode parecer incrível, mas é isto mesmo que está escrito. Veja decidiu que o golpe não era um "problema tão grande", que a medida de força foi "até certo ponto justificável pelas leis do país" e ainda que o perigo maior era o presidente constitucionalmente eleito Manuel Zelaya, cujo grande pecado teria sido propor uma consulta ao povo do seu país para que, junto com a eleição presidencial, decidisse se quer ou não convocar uma Assembleia Constituinte para rever as leis hondurenhas. Ao contrário do que se tem escrito por aí, esta é a verdade pura e simples: Zelaya não queria um novo mandato, o plebiscito não tinha esta intenção, mas tão somente convocar a Constituinte, se o povo assim decidisse.

Não é o propósito aqui de debater o episódio em si, o que interessa é a cobertura da revista que pretende dar profundas lições aos diplomatas e também ao presidente Lula. Veja mostra que sabe governar melhor do que ninguém e se apresenta capaz de elaborar perfis muito profundos da alma das pessoas, mesmo sem entrevistá-las. É precisamente este o caso de Zelaya, que mereceu um parágrafo especialmente afetuoso, digamos assim, na reportagem do semanário da Abril:

"Não se deve descartar a hipótese de que o homem seja um lunático. Como sugere sua queixa, na semana passada, de que `um grupo de mercenários israelenses´ estava perturbando seu cérebro com `radiações de alta frequência´. A paranoia dos raios mentais é um sintoma clássico de esquizofrenia. O certo é que Zelaya não cabe no figurino de um mártir da democracia."

É deveras espetacular o nível de aprofundamento e a percepção certeira da revista ao elaborar o "perfil humano" do presidente hondurenho. Além do que, os leitores foram brindados com uma aula de psicanálise ao serem informados de que os raios mentais são sintomas clássicos de esquizofrenia – seria interessante saber quantos psicólogos e psiquiatras Veja consultou para chegar a esta conclusão tão peremptória. Mais ainda, a revista sabe com toda a certeza que "Zelaya não cabe no figurino de um mártir da democracia", afirmação que simplesmente dispensou qualquer argumento adicional. Pois é, o homem parece ser o próprio coisa-ruim, veste chapéu, usa guayabera, tem mais de dois metros de altura, então só pode ser o coisa-ruim mesmo. E assim sendo, não pode gostar de democracia, conclui a revista...

Propaganda disfarçada

Aos leitores que acompanham este observador nas análises que faz para esteObservatório do material produzido pela redação de Veja, pode parecer até um tanto repetitivo, mas é preciso sempre voltar ao âmago da questão: o semanário da Editora Abril há muito tempo não é um veículo noticioso, mas um panfleto político com objetivos e ideologia bastante claros. O que se lê na Veja não é jornalismo, mas proselitismo político.

A revista tem lado e faz questão de mostrar, em todas as edições, os ideais que defende. Em algumas, até consegue disfarçar um pouco e apresentar como jornalismo o contrabando editorial que quase todas as suas matérias trazem. Em casos como o da edição corrente, a redação deixa o pudor de lado e vai direto ao ponto, abordando o leitor de maneira grotesca e impondo sua visão de mundo na forma de reportagem.

Para o público mais desatento, a coisa pode até passar por jornalismo; para os mais politizados, deve soar como uma espécie de humor nonsense; mas, na soma geral, é apenas propaganda disfarçada de algo remotamente próximo ao jornalismo.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Duelo final em Honduras

Editorial - Tiempo, San Pedro Sula, 23 de septiembre de 2009


Duelo final


El audaz y sorpresivo retorno del presidente José Manuel Zelaya Rosales a Tegucigalpa, para iniciar sobre el terreno la restauración del orden institucional, viene a ser el final del duelo entre el régimen de facto y el régimen constitucional que vuelve por sus fueros.

Respaldado por la mayoría del pueblo hondureño, por la Organización de los Estados Americanos (OEA), las Naciones Unidas (ONU) y los pueblos de todo el mundo, el presidente Zelaya Rosales ha planteado inmediatamente, desde su residencia temporal de la Embajada de Brasil, la realización del diálogo nacional que garantice la rehabilitación del Estado de derecho en paz, concordia y unión de la familia hondureña.

Simultáneamente, la asamblea general de la OEA ha reiterado su resolución contra el golpe de Estado del 28 de junio y la exigencia de la restitución inmediata e incondicional del presidente Zelaya en el mando presidencial de Honduras, aunque dando ahora cabida a la solución diplomática concernida en las negociaciones del Acuerdo de San José y en vista del giro de los acontecimientos a lo largo de los casi tres meses transcurridos después del golpe militar.

La presencia del presidente Zelaya Rosales en territorio hondureño cambia casi por completo el panorama político, y, por supuesto, las circunstancias en torno a la aplicación del Acuerdo de San José, tanto por la negativa total del gobierno de facto a suscribirlo en todos sus extremos como por la evolución del proceso político constituido en movimiento de resistencia nacional al régimen de facto, el cual demanda un cambio más a fondo a través del poder constituyente.

En estas condiciones, la sociedad hondureña está abocada a un desenlace crucial toda vez que el presidente Zelaya se encuentra hondamente comprometido con la solución diplomática, que le reporta el apoyo mundial a su postura de dignidad y buena fe, mientras el sector golpista encabezado por el espurio jefe de Estado, Roberto Micheletti, desconoce totalmente el apremio de la voluntad nacional e internacional para acabar con la crisis política en Honduras.

Puestas así las cosas, el curso de los acontecimientos relacionados con la crisis política, y, más específicamente, con el proceso electoral proyectado para noviembre próximo, se verá sometido a extraordinarias presiones en línea con la filosofía del Acuerdo de San José que difícilmente podrá esquivar ni soportar el régimen de facto, el cual da la impresión, hasta este momento, de que está decidido a inmolarse antes que dar paso a la razón y el interés nacional.

Por lo demás, el presidente Zelaya ha logrado –con éxito— el cruce del Rubicón… y lo demás es cuestión de tiempo. De poco tiempo.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Bases dos EUA querem cercar América Latina

Bases dos EUA querem cercar América Latina

O governo dos Estados Unidos e seu satélite colombiano não escondem o objetivo central das novas bases militares na Colômbia: cercar e esmagar a luta anti-imperialista na América Latina e hoje com alvo central na Venezuela.
No pacto militar assinando entre Colômbia e EUA está escrito que além do combate ao tráfico de drogas, armas e grupos terroristas, há o objetivo de “promover e defender a democracia e a liberdade”. A história latino-americana está recheada de exemplos de golpes e invasões patrocinadas pelos EUA em nome da “liberdade e democracia”, uma senha para atacar todos os povos que ousem se levantar pela soberania nacional. O ex-conselheiro de segurança nacional dos EUA Zbigniew Brzezinski declarou que o pacto visa também conter a Venezuela: “a Venezuela tenta desestabilizar a Colômbia e vamos continuar a ajudá-la” (OESP, 14/09/2009).
Não é a toa que o ministro da defesa da Colômbia, Jaime Bermúdez, confirmou que seu país não pretende garantir nada sobre o usos das bases colombianas por tropas dos EUA. O país tornou-se a plataforma central de ação dos EUA na região depois que o Equador fechou a base militar de Manta. Esta instalação era o principal centro de espionagem eletrônica, com tecnologia de satélites, do Pentágono na América do Sul e era utilizada como plataforma logística de inteligência militar, para alavancar as operações coordenadas pelo Comando Sul.
A Colômbia tenta comparar seu pacto, que abre o território para os EUA agirem livremente, com as compras de armas de países da região para sua auto-defesa.
As compras de materiais militares pelos países da América Latina são uma pequena poeira perto dos gastos militares dos EUA. Os gastos previstos chegam a R$51 bilhões, menos de 3% dos gastos mundiais no setor e equivalente a 72 horas de despesas das guerras dos EUA segundo o jornalista Roberto Godoy (OESP, 15/09/2009).

A reunião de chanceleres e ministros de defesa da região realizada em 15 de setembro mostra a encruzilhada da Unasul, que passou a ser utilizada pela Colômbia como espaço para ameaçar e pressionar os outros países. Para questionar até o fim a ingerência dos EUA através das bases colombianas é necessário também rever o acordo das bases dos EUA em Alcântara no Brasil, a base no Paraguai e as duas bases no Peru, além da vergonhosa participação de vários países da região na ocupação do Haiti. O Conselho Sul-americano de Defesa da UNASUL corre o sério risco de tornar-se um legitimador e complemento da política imperial dos EUA na região.

As bases militares dos EUA

As novas bases podem ser usados para transportar tropas para a África e intervir nos países da região. Na Colômbia, os EUA contam com três bases militares, a de Arauca, projetada para “combater” o narcotráfico, mas que de fato é utilizada como ponto estratégico para o monitoramento da zona petroleira, especialmente a da Venezuela. Outra é a Base Militar de Larandia, que serve como base de helicópteros. Possui uma pista de aterrissagem para bombardeiros B-52 e permite uma cobertura para ataques em quase todo o sul do continente. A terceira é a Base Militar de Três Esquinas. No Peru há duas bases militares: Iquitos e Nanay, utilizadas por soldados dos EUA que operam na zona fluvial Nanay, na Amazônia peruana. O ministério da Defesa colombiano enumerou as novas bases: as aéreas serão Malambo, no departamento do Atlântico; Palanquero, em Cundinamarca; e Apiay, em Meta. As bases do exército serão Tolemaida, em Cundinamarca; e Larandia, em Caquetá. As navais serão as de Cartagena e Bahia Málaga, no departamento de Valle Del Cauca. No Paraguai se encontra a Base Mariscal Estigarribia, desde maio de 2005.
Com os mesmos objetivos, os Estados Unidos tem pretensões de instalar, no futuro, quatro bases adicionais: uma em Alcântara no Brasil; outra na zona de Chapare na Bolívia; outra mais em Tolhuin, na província de Terra do Fogo, na Argentina; e a última na zona conhecida como a tripla fronteira, localizada na fronteira entre o Brasil, a Argentina e o Paraguai.

A Bolívia se prepara para novas eleições presidenciais

Em 6 de dezembro ocorrem eleições presidenciais na Bolívia e Evo Morales enfrentará outros sete candidatos oposicionistas. As eleições serão uma oportunidade para os trabalhadores e a juventude boliviana, no diálogo com todos aqueles que irão votar em Evo, darem passos concretos para construírem seu próprio partido. Os trabalhadores vem corretametne pressionando Evo a avançar no antendimento de suas reividicações.
A crise mundial provocou demissões em massa no país e nenhuma resposta do governo. Ao mesmo tempo a direita provoca atentados com dirigentes populares e mantém as ameaças de separatismo. Isso ocorre em um ambiente de novas ações dos EUA na região como as bases na Colômbia e o apoio velado ao golpe em Honduras.
Existem grandes possibilidades de que Evo seja reeleito, ainda que a maioria das frentes de direita acreditem poder derrotá-lo. Evo recebeu mais de 60% dos votos no último referéndum e as atuais pesquisas apontam para uma vitória também no Senado e na Câmara de deputados. Serão eleitos 130 deputados e 36 senadores.
A direita está dividida. Entre os oposicionistas estão o ex-capitão do exército Manfred Reyes Villa e Leopoldo Fernández, exprefeito de Pando e hoje preso. A candidata Ana María Flores do Movimiento de Unidad Social y Patriótica (Muspa); o dirigente camponês Román Loayza, ex MAS; Alejo Véliz va da sigla Pulso; El exprefeito de Potosí René Joaquino da Alianza Social (AS); o empresario Samuel Doria Medina do Unidad Nacional (UN), e o movimiento Bolivia Social Demócrata com o candidato Rime Choquehuanca.
Nas próximas eleições o povo trabalhador em sua maioria vai apoiar a reeleição de Evo Morales para que suas reivindicações sejam atendidas. É necessário exigir de Evo Morales que atenda as reivindicações mais urgentes do povo boliviano, fim das demissões, aumento salarial, a nacionalização da mineração privada, Reforma agrária com expropriação do latifúndio no Oriente. O destino da revolução na Bolivia depende do grau de organização que os trabalhadores e o povo oprimido consigam alcançar de forma independente.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Trabalhadores lutam por saúde pública nos EUA

Os debates sobre a reforma do falido sistema público de saúde dos EUA colocam Obama frente a frente com os milhões de trabalhadores estadunidenses que votaram nele. Esse foi um dos pontos centrais da paltaforma política que o levou à presidência e agora abre uma crise politica no país entre as massas mobilizadas e as grandes empresas do setor.

No interior do movimento sindical existe uma grande campanha apoiada por organizações e militantes que defendem há muito tempo um sistema de saúde pública universal. A proposta é baseada no pagamento único e na assistência completa para todos os residentes nos Estados Unidos. O Projeto de Lei (HR 676), que propõe esse sistema de saúde, já foi apoiado por 556 instâncias sindicais de 49 estados com 130 comissões executivas e 30 federações de estados da AFL-CIO (central sindical dos EUA). Richard Trumka, secretário-geral da AFL-CIO e candidato à presidente da central, declarou apoio à proposta. Mais de 50 resoluções submetidas durante a preparação do próximo congresso da central sindical pedem apoio ao projeto de lei HR 676.

A crise econômica afetou a saúde de milhões de pessoas. Um estudo publicado na American Journal of Publica Health (Revista Americana de Saúde Pública) pelo dr. Craig Pollack da faculdade de medicina da Pensilvânia revelou que a crise financeira provocou também uma crise na saúde: milhares de famílias não se tratam por falta de dinheiro para pagar médicos e remédios e outra perderam suas casas por dívidas com hospitais.

Mas Obama apresentou um projeto de reforma da saúde que busca preservar os interesses das grandes corporações de saúde e a indústria farmacêutica. Sua proposta limita-se a oferecer uma “opção pública”, ou seja, criar um setor de saúde pública básico ao lado, e sem questionar, o setor de saúde privada. A cúpula da AFL-CIO aderiu a essa proposta em oposição ao movimento das bases em apoio ao projeto de lei HR676.

Mesmo assim, a proposta Obama desencadeou uma campanha furiosa das grandes empresas de assistência médica e farmacêuticas com apoio dos partidos democrata e republicano, afirmando que se trata de uma “socialização da medicina”. A mobilização independente dos trabalhadores nos Estados Unidos, superando na luta muitas das ilusões que muitos têm no governo Obama, é o único caminho para garantir o direito à saúde pública para todos.

terça-feira, 30 de junho de 2009

A Nicarágua e a revolução de 1979

A Nicarágua e a revolução de 1979



Em 19 de julho de 1979 colunas na Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) tomavam as ruas e o poder na Nicarágua. Milícias populares armadas refletiam a esperança de que não apenas a ditadura sanguinária da família Somoza, no poder desde 1937, terminasse de vez. O povo nicaragüense queria a reforma agrária, a democracia, a ruptura com o controle imperialista dos EUA sobre o país. Aprofundar a revolução em direção ao socialismo, expulsar a burguesia que sempre se beneficiara da ditadura, era o único caminho para garantir as conquistas. O que impediu esse caminho?


As origens da Frente Sandinista

A FSLN foi fundada em 1961 sob o impacto da vitoriosa revolução cubana de 1959. Sua origem remonta a luta do líder antiimperialista nicaragüense César Augusto Sandino, assassinado em 21 de fevereiro de 1934 pelo então chefe da Guarda Nacional Somoza Garcia. Desde 1937 Somoza implantou uma ditadura, depois herdada por seu filho Anastácio. Sandino considerava corretamente a Guarda Uma força de ocupação a serviço dos EUA.

Depois de fracassos seguidos nas táticas de guerrilhas desde 1967, a FSLN estava em crise. Em outubro de 1975 dividiu-se em três tendências internas com orientações e táticas diferentes. A chamada tendência “terceirista” era majoritária e defendia a guerrilha urbana e a aliança com setores oposicionistas da burguesia. A “tendência proletária” defendia a tática foquista ou das guerrilhas inspirada em Cuba. Uma terceira tendência tentava seguir o modelo chinês da “guerra popular prolongada”. As três tendências não aceitavam a possibilidade de uma insurreição de massas abrir caminho direto para um regime socialista. Esse compromisso com a burguesia ficou claro as vésperas da vitória da revolução.

Em 1978 Anastácio Somoza mandou assassinar Joaquim Chamorro, diretor do jornal La Prensa e principal líder burguês contrário à ditadura. A burguesia nicaragüense com apoio dos EUA buscava uma saída sem Somoza para preservar o regime. O pacto que permitira ao clã Somoza dirigir o país como sua propriedade particular e garantir os interesses dos demais grandes proprietários estava rompido. A FSLN une-se em busca de uma saída comum com a burguesia liberal e é formada a Frente Patriótica Nacional.


As massas tomam as ruas

Longe do pacto entre a FSLN e a burguesia, as massas aderem em massa à greve geral convocada pela Oposição em 1978. Em 20 de fevereiro o bairro indígena de Masaya na cidade de Monimbu rebela-se e luta contra a Guarda Nacional durante oito dias. Era apenas o começo. No final de agosto nova insurreição em Matagalpa dura uma semana. Em setembro a FSLN lança uma ofensiva contra as principais cidades. O imperialismo busca desesperadamente negociar uma saída sem Somoza para tentar evitar que uma revolução de massas com o fim da ditadura.

Na páscoa de 1979 colunas sandinistas ocupam a cidade de Esteli. Em 3 de junho a cidade de Leon, a segunda do país, se rebela. A luta nas ruas se prolongará até 9 de julho, quando é declarada capital provisória. No dia 4 de julho uma Greve Geral Revolucionária é convocada pela FSLN. As tropas somozistas se refugiam nos quartéis e Somoza finalmente foge para Miami em 17 de julho de 1979. Dois dias depois se desintegra a Guarda Nacional e o novo governo revolucionário se instala.


Dividir a vitória com a burguesia?

A oposição burguesa estava articulada para evitar que a saída de Somoza abrisse uma insurreição de massas incontrolável. O compromisso da FSLN foi fundamental para bloquear o aprofundamento da revolução. Em maio de 1978 formara-se a Frente Ampla de Oposição (FAO) com a participação de sandinistas e do Partido Socialista Nicaragüense alinhado com Moscou. A tendência terceirista liderada por Daniel Ortega dá fôlego ao chamado Grupo dos Doze, do qual participam empresários, a Igreja e intelectuais dispostos a intermediar um governo de transição sob respaldo do imperialismo e com apoio da FSLN. As três tendências da FSLN aderem ao pacto com a burguesia.

Antes da insurreição das massas o acordo é selado em meados de junho de 1979 na Costa Rica. É formada uma Junta de Governo de Reconstrução Nacional com cinco membros: 2 sandinistas, Violeta Chamorro, Roberto e Sérgio Ramirez do Grupo dos Doze com o objetivo de buscar a cooperação dos EUA para afastar Somoza.

O programa da Junta na prática negava a luta das massas que enfrentavam a Guarda Nacional e a burguesia. O ponto 1.12 do programa da Junta estabelecia, por exemplo, que o novo exército teria a participação de “soldados honestos e patrióticos” da Guarda Nacional. Mas quando a FSLN entrou em Manágua já não existia mais a Guarda. O ponto 2.13 do programa garantia a defesa da propriedade privada e o ponto 2.10 limitava a reforma agrária às terras de Somoza, àquelas adquiridas por fraude ou abandonadas. Sobre a dívida externa que esmagava a Nicarágua, o programa afirmava “propor honrar todos os compromissos externos”, ou 1,3 bilhão de dólares que significavam metade do Produto Interno Bruto do país.

Porém a revolução despertou um enorme entusiasmo das massas na América Latina e um movimento de solidariedade internacional que na prática inviabilizavam os compromissos inicialmente assumidos pela cúpula da FSLN. Constituiu-se de fato um governo operário–camponês baseado no armamento generalizado das massas para defender a revolução, a soberania nacional, a reforma agrária. Essa possibilidade de radicalização é que desencadeou a ofensiva imperialista. A incapacidade da FSLN em destruir rapidamente a revolução, ou seja, desarmar as massas revolucionárias, ameaçava os interesses da burguesia nicaragüense e do imperialismo dos EUA.


O cerco da revolução

O cerco internacional à revolução foi brutal. Após a vitória esmagadora dos sandinistas nas eleições livres de 1984 a ação contra-revolucionária torna-se implacável. Bloqueio econômico e diplomático liderado pelos EUA, financiamento dos “contras”, grupos mercenários armados da antiga Guarda Nacional, que atacavam a Nicarágua desde Honduras e Costa Rica. A sabotagem econômica da burguesia, a propaganda contra-revolucionária da Igreja Católica, o papel da União Soviética de lavar as mãos sufocavam a Nicarágua.

Por outro lado, a FSLN recusava-se a aprofundar a revolução e expropriar a burguesia, que seguiu ativa dentro do próprio país. A reforma agrária, por exemplo, só começou de fato em 1985. A opção por uma ”economia mista” de respeito às grandes propriedades não garantiu o apoio da burguesia. A nova constituição de 1986 reforçou a perspectiva de encontrar uma via de compromissos com o imperialismo, o que significaria cedo ou tarde um choque com as massas que lutaram pela revolução. Isso na tardou. Em fevereiro de 1988 a FSLN implanta um plano de ajuste econômico contra as massas: arrocho salarial, demissões e corte de investimentos. Essa ruptura com os marcos da revolução é que preparava o terreno para a vitória da candidata do imperialismo, Violeta Chamorro, em 1990. Daniel Ortega, hoje novamente presidente da Nicarágua, desarticulou e entregou a vitória das massas novamente nas mãos da burguesia.


A campanha de solidariedade

O jornal O Trabalho combateu ativamente pela solidariedade ativa à Revolução nicaragüense. Uma das iniciativas mais importantes no Brasil foi a organização da Conferência de Solidariedade à Nicarágua e pela Paz na América Central, presidida pelo prof. Alfredo Bosi, reconhecido intelectual da USP, e que foi realizada no dia 20 de julho de 1985 em São Paulo. A resolução condenou a intervenção dos EUA e se dirigiu ao governo brasileiro para tomar medidas de apoio ao governo nicaragüense. Vários comitês de solidariedade foram constituídos e estiveram presentes. Antes disso ocorreram a Conferência Latino-americana na Colômbia e a Conferência européia de dezembro de 1983 contra a intervenção dos EUA.

Miguel Alandia

A desestabilização anunciada do Irã

A desestabilização anunciada do Irã

O que acontece por trás das manifestações de massa no Irã? A cobertura da imprensa brasileira em geral não vai além da opinião do imperialismo cncetradas em denunciar as fraudes nas eleições e a vitória do suposto candidato oposicionista M. Mousavi. Mas tanto no atual presidente iraniano Ahmadinejad como Mousavi integram duas frações do mesmo regime dos aiatolás. Um dos argumentos para "provar" a fraude teria sido o fato de Mousavi ter perdido na região azérie, sua região. O voto dessa monoria por Ahjmadinejad seria prova de fraude. Mas Mousavi ganhou em Shabestar, centro da região e habitado pela média e grande burguesia, enquanto perdeu nas zonas rurais pobres. Ahmadinejad ganhou nas províncias de indústrias petrolíferas e químicas enquanto Mousavi foi vitorioso no centro de Teerã. É preciso notar que o programa de Mousavi continha a proposta de privatização das empresas públicas.
Mousavi não é um oposicionista do regime, do qual ele faz parte e foi primeiro ministro entre 1981 e 1989. Ele é considerado o "pai" do programa nuclear iraniano, chefiou o país durante a guerra contra o Iraque na ´decada de 1980, sendo uma figura de proa de uma ala do regime como Ahmadinejad é de outra ala. A luta real está nas altas cúpulas do regime.
De um lado o dirigente supremo do Irã aiatolá Ali Khamenei. De outro Hachemi Rafsanjani, conhecido como "o tubarão". "Para os que não conhecem o Irã, é suficiente dizer que o clã familiar Rafsanjani possui um vasto império financeiro, incluindo o comércio exterior, muitas terras, grandes meios de comunicação e universidades privadas do Irã. (...) Eles não são apenas doadores financeiros da campanha de Mousavi, ams também fornessem os quadros estudantis ativistas" (M. Bhadrakumar, antigo embaixador da Índia, The Asian Times).
o eixo Rafsanjani-Mousavi expressa os interesses dos grandes comerciantes, da burguesia raniana. Do outro lado, Khamenei se apoia nos funcionários, nos serviços controlados pelo estado. Um embargo ou sanções comerciais ao Irã são um grande risco que ameaça diretamente os negócios da burguesia iraniana. É essa pressão que se dirige contra os aiatolás que dirigem o país e não para responder às reivindicações por democracia e soberania do povo.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Ano novo aymará: 5517 começa hoje

Ano novo aymará: 5517

El primer rayo de sol dio la bienvenida al año 5517 del calendario aimara
El cálculo del año 5517 es la suma de los cinco ciclos -cada uno de mil años- de historia social de los pueblos originarios hasta que Cristóbal Colón llegó a América en 1492. Esos 5000 años más los 517 desde el arribo de los españoles, dan los 5517, según una interpretación popular.

Miles de personas se dieron cita en la ciudad preincaica de Tiwanaku o Tiahuanaco (Bolivia) en la madrugada de ayer para dar la bienvenida al año nuevo aimara, el 5517 según su calendario, con el primer rayo de sol.

Unas 25.000 personas, entre ellas numerosos turistas, esperaron hasta las siete en punto de la mañana para ver la aparición del astro rey por el horizonte y "absorber" su energía para el año que empieza, coincidiendo con el solsticio de invierno austral.

La ceremonia de recibimiento al sol o "wilkakuti" ("retorno del sol", en aimara) estuvo dirigida por un grupo de "amautas" (sacerdotes aimaras) que presentaron diversas ofrendas al altar mayor del templo de Kalasasaya, que se alzaba majestuoso con un gran fuego en su centro.

Según la tradición aimara, los primeros rayos del sol del 21 de junio fecundan la tierra, coincidiendo con el solsticio de invierno, el día más corto del año y la noche más larga.

Con ritos y ofrendas al "Inti" (Sol) y a la "Pachamama" (Madre Tierra), la ceremonia de año nuevo se desarrolló ante una gran expectación en Tiahuanaco, a 72 kilómetros de La Paz y a casi 4.000 metros sobre el nivel del mar.

Los asistentes, a la orden del "amauta" que dirigía el rito, alzaron sus manos a la búsqueda del Sol, para empezar el año con las fuerzas y los deseos suficientes.

David Quispe, un aimara argentino que llegó a Tiahuanaco sólo para celebrar el nuevo año, aseguró que, tras siete viajes a Bolivia para recibir el primer rayo solar, "hasta en el tema de salud" se ha sentido reconfortado, y todo gracias a esa "energía recibida" el primer día del año.

La Alcaldesa de la población de Tiahuanaco, Eulogia Quispe, dijo que este evento "significa muchísimo" para el mundo andino, y que la energía recibida del dios Sol permitirá seguir trabajando para el bien de los pueblos latinoamericanos.

La joven Alcaldesa aimara, además, dijo que el componente turístico, cada año más presente en el "wilkakuti", no afecta en nada a la celebración, porque los que asisten a recibir la energía solar "lo hacen de corazón".

Este año varias novedades planearon sobre el rito del nuevo año aimara, ya que, pese a todo, la actualidad no queda al margen de las tradiciones.

Muchos de los asistentes al "wilkakuti" portaban, además de numerosas mantas y ropa de abrigo para combatir el duro frío altiplánico, mascarillas que cubrían su boca, como prevención para evitar el contagio de la gripe A, que está empezando a extenderse por Bolivia, donde ya afecta a 27 personas.

Además, la declaración del 21 de junio como festivo nacional, en cumplimiento de la nueva Constitución de Bolivia, que demanda la regularización de las tradiciones de los pueblos indígenas, estuvo entre las conversaciones de las autoridades, por la controversia que ha generado en las comunidades indias del oriente boliviano.

El Ministro de Culturas, Pablo Groux, dijo a los medios de comunicación que el solsticio de invierno representa "un hecho científico" que significa un nuevo ciclo agrícola, por lo que todos los bolivianos pueden sentirlo como suyo y así obviar la controversia.

La declaración del año nuevo aimara como festivo nacional "ha sido un reconocimiento a un hecho cultural que existe en Bolivia. Queremos que sea un día de energía y de buenos augurios para el próximo año, y hasta el momento sólo he escuchado rechazo de algunos dirigentes políticos", aseguró.

Pese a que la principal celebración de esta fecha tiene lugar cada año en Tiwanaku, ceremonias similares se han repetido en otros lugares del altiplano boliviano, así como en sitios arqueológicos de Cochabamba y en el fuerte de Samaipata, en Santa Cruz.

El Presidente boliviano, Evo Morales, no asistió como el año anterior a la bienvenida del Sol en Tiahuanaco, enclave arqueológico donde recibió hace tres años el bastón de mando de los pueblos indígenas.

La fiesta en la ciudad preincaica terminó con el Sol en alto, ya alejado el frío de la madrugada, con bailes alrededor de hogueras y ofrendas y con unos fuegos artificiales que quedaron deslucidos por la claridad de la luz del nuevo año aimara.

Datos importantes

El cálculo del año 5517 es la suma de los cinco ciclos -cada uno de mil años- de historia social de los pueblos originarios hasta que Cristóbal Colón llegó a América en 1492. Esos 5000 años más los 517 desde el arribo de los españoles, dan los 5517, según una interpretación popular.

La cultura Tiwanaku -implantada en la agreste altipampa, cerca al lago Titicaca, de 1580 AC al 1172 DC- formó un Estado poderoso y estuvo poblada por unas 40.000 personas.

La urbe prehispánica de Tiwanaku fue la capital de un extenso Estado andino que comprendía la parte occidental de Bolivia, el noreste argentino y la costa litoral de Chile, desde Copiapó hacia el norte del desierto de Atacama.

La capital de este imperio -que extendió sus dominios físicos a alrededor de 600.000 km2- es Tiwanaku, llamada también Taipikala.

Actualmente, Tiwanacu o Tiahuanaco es una ciudad de 15.000 habitantes que vive del turismo que recae sobre las ruinas de los que fue, en el siglo VII después de Cristo, el centro ceremonial de la urbe más poblada del planeta.

Se estima que en el apogeo del estadio Urbano Maduro, Tiwanacu, una civilización que llegó a desarrollar tecnología agrícola de punta, tenía una población de 100.000 habitantes, antes de desaparecer, explicablemente, entre los siglos IX y X de este mismo tiempo.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Debate e lançamento do livro Desarquivando a Ditadura: Memória e Justiça no Brasil

Evento
16 de junho
São Paulo - SP


Debate e lançamento do livro DESARQUIVANDO A DITADURA: MEMÓRIA E JUSTIÇA NO BRASIL Volumes I e II Organizado por Cecília MacDowell Santos Edson Teles Janaína de Almeida Teles Com debate coordenado por Cecília MacDowell (CES, Universidade de Coimbra e University of San Francisco) e os debatedores Ana Maria Camargo (USP) Márcio Seligmann-Silva (Unicamp) Marlon Weichert (Procurador da República) Zilda Marcia Grícoli Iokói (USP).



Local: Instituto Sedes Sapientiae - Av. Ministro Godoy, 1484 Perdizes

Mais informações: Editora Hucitec (11) 5041-4863

domingo, 14 de junho de 2009

O massacre da praça Paz Celestial faz 20 anos

O massacre da praça Paz Celestial faz 20 anos


Entre abril de junho de 1989 desenvolveu-se na China um processo revolucionário contra a burocracia que, em associação com os capitalistas, começava a ameaçar mais diretamente as conquistas da revolução chinesa de 1949. Passados vinte anos, as reivindicações dos jovens e operários chineses permanecem vivas e atuais na China de hoje.

Em 15 de abril de 1989 morria o antigo secretário do Partido Comunista (PC) chinês Hu Yao Bang, removido por não ter reprimido as manifestações dos estudantes no inverno de 1986 e que reivindicavam a liberdade de imprensa, de associação e de candidaturas às eleições locais. Desde o dia 16 de abril milhares de estudantes ocuparam a praça Tiannmen ou Paz Celestial com coroas de flores para homenagear Hu. Em 21 de abril mais de 200 000 jovens, trabalhadores, aposentados tomaram a praça, apesar da proibição das manifestações. Em outras grandes cidades ocorria o mesmo. Os manifestantes revoltam-se contra os dirigentes e gritam: “Tremei, corruptos! O povo acorda” Viva a democracia, vida a liberdade!”
Esses são os problemas que oprimem o povo chinês: um regime de opressão, a corrupção, as reformas econômicas que são acompanhadas de uma inflação galopante e as primeiras demissões em massa, o burocratismo e o parasitismo. Um operário chinês dizia: “sem a democracia não poderemos eliminar a corrupção.”
Essa corrupção se desenvolvia e se relacionava com as “reformas” e a abertura econômica, ou seja, a introdução de mecanismos de mercado em uma economia regida pela propriedade social. Foi Deng Xiaoping quem, no final de 1978, lançou essa política. Desde 1984 contavam-se já quatorze cidades nas zonas econômicas especiais destinadas aos investidores estrangeiros. Ali não havia nenhuma regulamentação, nenhuma legislação trabalhista, nenhuma lei. A multiplicação de zonas especiais e outras zonas francas em beneficio dos investidores estrangeiros sustentava toda uma camada social de quadros políticos e administrativos que engordavam na corrupção e parasitismo.
Quanto à inflação, o PC chinês decidira, em agosto de 1988, liberalizar todos os preços em cinco anos, apesar da alta dos preços no varejo em 11% no primeiro trimestre. São esses problemas que conduzem a irrupção da juventude e das massas populares entre abril, maio e junho de 1989.

A burocracia parasita a revolução chinesa

O parasitismo era o objeto de todos os ódios desse grande movimento popular que surgia. O ponto 7 da carta publicada em 21 de abril de 1989 pelo Comitê de Organização dos Estudantes da universidade de Pequim exigia: “que os dirigentes de Estado prestassem contas ao povos e ao país inteiro dos seus ganhos e do seu patrimônio...”
Em 22 de abril os estudantes entram em greve e constituem um sindicato autônomo. O movimento e os sindicatos autônomos ganham outras cidades. Em 26 de abril Deng Xiaoping, que dirigia a China desde 1977 mas já não possuía mais nenhuma função oficial no PC a não ser a comissão militar, se dirige ao secretariado político exigindo a retomada da estabilidade. Em 27 de abril a população de Pequim manifesta-se. Mais de 300.000 pessoas saem às ruas apoiando os estudantes e cantando A Internacional. O 4 de maio é uma festa nacional importante para os chineses e são agora centenas de milhares de pequineses que se manifestam. A polícia se retira antes de tentar impedir os desfiles.

Em 15 de maio, M. Gorbachev, dirigente da ex-União Soviética na época, está em visita oficial a Pequim e é obrigado a passar pela porta de serviço do Palácio do Povo porque a praça Tianmen está ocupada por 150.000 manifestantes que apoiam os 2.000 estudantes em greve de fome. No dia seguinte e nos próximos os operários apoiam massivamente os estudantes e passeatas de 500.000 a 1 milhão de trabalhadores desfilam com bandeiras vermelhas e bandeirolas brancas, muitas penduradas nos carros, ônibus, táxis. Os dirigentes dos sindicatos oficiais exigem a independência dos sindicatos frente ao PC. Várias centenas de jornalistas do “Diário do Povo”, órgão oficial do governo, manifestam-se pelo fim da censura e pela liberade de pensamento. Os militares se manifestam com uniformes. Pequim está em greve geral. No dia 18 de maio o Diário do Povo dá a manchete: “Um milhão de pessoas se manifestam em apoio aos grevistas de fome”.
A crise se desenvolve até na cúpula do PC.

Os burocratas organizam a carnificina

Em 19 de maio a lei marcial é proclamada pelo primeiro ministro Li Peng.
De novo o povo se levanta. Os militares chegam a noite em caminhões para atacar os estudantes da praça Tiannmen e são recebidos com a palavra-de-ordem: “Vocês são o exército do povo e o povo somos nós!” Os destacamentos da polícia formam uma barreira ao exército. A população de Pequim sai às ruas em plena noite. Operários, empregados e dirigentes tomam todos os lugares e leem-se nos ônibus, caminhões, nas casas: “Derrubemos os corruptos”, “O governo teme o povo”, “Os operários de Pequim protegem os estudantes”.
Em 25 de maio ocorre a formação da Associação Autônoma dos Operários de Pequim. Outros sindicatos independentes surgem em outras grandes cidades do país...
A frente do PC e do Estado, Deng Xiaoping consegue, frente a esse período de grande confusão, um acordo com uma maioria de chefes militares e do secretariado político do PC para “esmagar sem vacilar essa agitação”. É a irrupção da classe operária que determinará Deng Xiaoping e Li Peng a lançar a carnificina de Tiannmen, com uma feroz repressão com execuções sumárias e prisões, atingindo em primeira linha os operários, que pagarão o mais pesado tributo. Era o preço que a burocracia chinesa estava e está disposta a pagar para abrir o país ao capitalismo e oferecer a massa de trabalhadores chineses à exploração das multinacionais.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Morreu o historiador boliviano Guillermo Lora

No último dia 17 de maio de 2009 morreu em La Paz um dos mais importantes intelectuais bolivianos e latino-americanos do último século. Guillermo Lora nasceu em Uncía em 1921 e ao longo de seus 88 anos de vida desenvolveu uma vasta obra intelectual com vários clássicos da historiografia boliviana como “La Historia del Movimiento Obrero Boliviano”, “La revolución boliviana – un analisis critico”, “La novela boliviana” entre numerosos escritos publicados em 67 grossos volumes de 500 páginas de suas Obras Completas. Era dono de um vigoroso e límpido estilo de escritor político, revelando-se profundo conhecedor da história política e cultural de seu país. Quem teve oportunidade de compartilhar seu contato pessoal não deixou certamente de ser influenciado pelo seu otimismo e energia como investigador e principalmente homem de ação. Sua enorme biblioteca e principalmente sua erudição cultural estavam sempre disponíveis para serem compartilhadas por jovens investigadores e a gente simples do povo que frequentava sua Universidade Popular. Formou várias gerações de intelectuais, professores, políticos e artistas comprometidos ou influenciados pelas suas ações e projetos de superação da miséria crônica que esmaga a Bolívia há tantos séculos. Foi acima de tudo um homem de ação que buscou encarnar a figura do intelectual revolucionário capaz de construir dialeticamente sua prática política e sua produção teórica. Permaneceu fiel e coerente com as perspectivas do marxismo e a orientação trotskista que abraçou desde sua juventude. Agiu decisivamente em momentos marcantes da história boliviana do século XX como a Revolução de 1952 e a Comuna de La Paz em 1971. Sua militância angariou admiradores e seguidores, mas também muitos adversários que, no entanto, o respeitavam pela sua integridade e coerência política e intelectual. Suas obras e sua trajetória por si sós incorporaram-se como parte do rico e original patrimônio histórico cultural não apenas da Bolívia, mas de toda a América Latina.

Everaldo de Oliveira Andrade

sábado, 16 de maio de 2009

O FMI, carrasco dos povos, frente à crise econômica

O FMI, carrasco dos povos, frente à crise econômica

Depois de sua recente participação na reunião no G-20, Lula afirmou que seria chique ao Brasil emprestar dinheiro ao FMI. Isso ocorre no mesmo momento em que países como o Equador, Paraguai, Venezuela e Bolívia se propõe a auditar suas dívidas externas. Nas últimas décadas o FMI tornou-se conhecido com o carrasco dos povos, impondo planos econômicos que causaram brutais sofrimentos a milhões de pessoas com o objetivo de dar sobrevida ao capitalismo. Frente à atual crise capitalista que avança e devora empregos dos trabalhadores, o FMI é novamente chamado para coordenar operações de salvamento dos capitalistas. Mas desde sua origem até hoje o FMI nunca foi mais que uma máquina dirigida pelos EUA para manter a qualquer custo – e contra a humanidade - a sobrevivência do capitalismo.

Qual a origem do FMI?

O Fundo Monetário Internacional foi criado em maio de 1944, no final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) como resultado da conferência de Bretton Woods. Participaram 43 nações associadas aos EUA e a Grã-Bretanha. O Brasil esteve representado em Bretton Woods pelo ministro da Fazenda da ditadura Vargas, Arthur de Souza Costa. A conferência discutiu a reconstrução econômica capitalista do pós-guerra. Tratava-se principalmente de assegurar o funcionamento do capitalismo e deter a onda revolucionária socialista que começava a se desencadear no final da Guerra. A 27 de dezembro de 1945, foram assinadas as atas de criação de dois organismos: o FMI e o Bird (Banco Internacional para Reconstrução e o Desenvolvimento, mais conhecido como Banco Mundial).

Como funciona o FMI?

FMI atua de fato como um órgão de controle do imperialismo dos EUA sobre o conjunto dos países capitalistas. Seus estatutos garantem uma série de privilégios para supervisionar e interferir nas economias dos países membros que necessitam de empréstimos. Frente a dificuldades de pagamentos externos um país pode requerer ao FMI a utilização de uma verba equivalente a 25% da sua quota realizada em ouro e divisas. Acima de 25% o FMI pode impor uma série de condições, na verdade funciona como um instrumento para impor as políticas ditadas pelo imperialismo. Há vários tipos de empréstimos e mecanismos de controle. Por exemplo, a partir de 1999 foi criada a “Facilidade de Ajustamento Estrutural”, um programa que obrigava o país que recebia empréstimos a assinar antes uma “carta de intenções” que impunha condições brutais de política econômica para o país cumprir: privatizações, corte de serviços públicos, garantia do pagamento de juros. No Brasil um exemplo dessas políticas é o conceito de “superávit primário”, que reserva verbas do orçamento para garantir em primeiro lugar o pagamento de parte dos juros da dívida.

No FMI manda quem tem dinheiro

Os principais recursos financeiros do FMI são as quotas pagas pelos seus membros. Estas são determinadas principalmente pelo PIB nacional (Produto Interno Bruto, conjunto das riquezas produzidas em um ano por um país) e sua importância relativa no PIB mundial. O princípio adotado nas votações não é o de "um país, um voto", mas sim o de "um dólar, um voto". Os países que têm maiores quotas são os que têm maior poder de influenciar nas decisões.
O Diretório Executivo do Fundo é constituído por 24 membros, sendo que oito representam países e os restantes dezesseis representam grupos de países. Os países que pelo tamanho da sua quota têm direito a nomear um representante são os seguintes: Estados Unidos (17,8% da quota e dos votos; é o país com maior quota individual), Alemanha (5,54%), Japão (5,54%), França (4,98%), Reino Unido (4,98%), Arábia Saudita (3,45%), Rússia (2,9%) e China (2,28%). Todos os restantes países são representados através de um Diretor eleito por grupos de países. O Brasil integra um grupo de países latino-americanos. Os EUA por serem os maiores quotistas sempre elegem o presidente do FMI e ditam suas regras de acordo com seus interesses.
O FMI e a crise da dívida externa no Brasil

A ditadura militar viveu uma lua de mel com o FMI, com sucessivos acordos negociados praticamente ano a ano entre 1965 e 1972. O BIRD, a partir dessa época, também passou a emprestar com maior liberalidade ao Brasil, assim como a AID, a agência oficial de ajuda ao desenvolvimento do governo dos EUA, ou o Eximbank. A crise da dívida externa de meados dos anos 1980 colocou o Brasil nas mãos do FMI e de suas exigências contra o povo brasileiro. Um aumento brutal da dívida externa e dos juros praticamente quebrou o país. No início de 1983 uma missão do FMI veio ao Brasil para impor o fim da indexação ou correção automática dos salários pela inflação. Como relata uma história oficial do FMI: “Os brasileiros tinham resistência a esse tipo de requisito.” Na verdade era a luta de classes, o surgimento da CUT e do PT que barravam um ataque direto aos trabalhadores. Mas sucessivos governos de Sarney, Collor, Itamar e FHC fizeram de tudo para cumprir as metas do FMI e esmagar o povo brasileiro. Em fevereiro de 1987 uma moratória foi declarada, a dívida externa impagável já atingia 121 bilhões e as massas ocupavam as ruas com a palavra de ordem “Fora daqui o FMI”. A partir de maio de 1993, com FHC na Fazenda e depois na presidência, foi imposto um plano de ajuste estrutural, com privatizações, sucateamento sistemático dos serviços públicos e a suspensão oficial da moratória. O país volta ao FMI em 1998. Os mandatos de Lula presidente a partir de 2002 expressavam a longa luta dos trabalhadores pela ruptura com o FMI.

segunda-feira, 30 de março de 2009

45 ANOS DO GOLPE DE 1964

45 ANOS DO GOLPE DE 1964
No dia 31 de março de 1964 as forças armadas iniciavam um golpe militar que derrubaria o presidente João Goulart, conhecido como Jango, e uma ofensiva brutal contra os movimentos sociais dos trabalhadores, juventude e camponeses. No Brasil, a classe operária crescia em número e importância com a industrialização. O movimento sindical, ainda tutelado pela burocracia do Ministério do Trabalho, passa por uma efervescência, e as greves aumentam em 1961. Isso mesmo se o PCB (Partido Comunista Brasileiro) semi-clandestino, que controla importantes sindicatos, não questiona a estrutura sindical pelega.

A renúncia de Jânio Quadros em 28 de agosto de 1961 precipitou uma crise. Seu vice-presidente, João Goulart, Jango - um latifundiário que fora ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, ligado aos sindicatos pelegos. Assim, sem apoio de todas as forças burguesas, desconfiadas de sua capacidade de conter o movimento de massas, Jango negocia sua própria posse - apesar da importante mobilização em seu favor comandada pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola - aceitando a implantação de um regime de tipo parlamentarista, como presidente com menos poderes. O arranjo provisório apenas prolonga a crise política. O pano-de-fundo era a vitória da revolução cubana, em 1959, que impulsionava movimentos de massa em todo o continente. Nesta nova situação, o imperialismo estadunidense buscava reforçar sua intervenção na região.

Ofensiva das massas
Abria-se um período de mobilização das massas, que se aproveitavam das brechas provocadas pela crise para avançarem suas mobilizações. Em novembro de 1961, realiza-se o 1º Congresso de Trabalhadores Agrícolas que aprova uma declaração pela reforma agrária. Fortalecem-se as ligas camponesas. Na juventude, a UNE toma a ofensiva pela ampliação das vagas nas universidades públicas.
Em março de 1962, marinheiros e fuzileiros navais fundam uma associação representativa. Os sargentos das três armas passam a ser organizar por reivindicações profissionais. Em abril, lideranças das Ligas Camponesas se declaram pela “reforma agrária, na lei ou na marra”. Em agosto de 1962, forma-se a CGT (Central Geral dos Trabalhadores), depois da greve nacional de julho - o 13º salário é conquistado. Em 1963 será fundada a Contag, confederação dos trabalhadores da agricultura.
Neste meio tempo, em junho de 1962, o gabinete Tancredo Neves renuncia. Há uma nova greve geral em setembro, e cai o segundo gabinete. Jango é obrigado a reconhecer os sindicatos rurais. Sob pressão, a burguesia antecipa em dois anos, para janeiro de 1963, o plebiscito previsto sobre o parlamentarismo. Mas é o presidencialismo que vence.

O Plano Trienal
A esmagadora vitória do presidencialismo representava um mandato das massas populares ao “nacionalista” Jango, para realizar reformas sociais. A burguesia e o imperialismo, por outro lado, esperavam um governo “forte” para atacar os trabalhadores e conter a crise econômica.
Com o Plano Trienal, elaborado pelo economista Celso Furtado, Jango preparava o ataque às condições de vida dos trabalhadores e suas esperanças: corte dos subsídios ao trigo (aumento do preço do pão) e às tarifas de serviços públicos (aumento da água e luz), contenção do crédito e controle dos salários. Mas a resistência social faz fracassar o Plano Trienal. Em meados de 1963 as massas estão nas ruas.
Jango, então, é obrigado a manobrar à esquerda – o poder começa a escapar de seu controle - e agora agita um “Programa das reformas de base” (reforma agrária, fiscal, bancária e administrativa).
Neste momento o estalinismo age de forma consciente para barrar um avanço independente do movimento de massas. O PCB tem um papel central para preparar a derrota que virá: ele desarma politicamente o movimento de massas, colocando-o sob a direção de uma fantasmagórica burguesia “nacional e progressista”. Ele aprofunda sua aliança com a burocracia sindical estatal, com a ajuda da qual busca subordinar os trabalhadores à Jango e aos setores nacionalistas da pequena-burguesia (Brizola, Arraes) com a criação da Frente Ampla.
O discurso nacionalista de Brizola e Arraes - inclusive com influência nas Forças Armadas - crescia na medida em que a direção do partido operário entrega nas mãos da burguesia a luta anti-imperialista (reforma agrária, controle da remessa de capitais, nacionalização de empresas).
Uma política operária independente e anti-imperialista poderia, ao contrário, atrair e arrastar as massas da pequena burguesia e do campo para uma aliança com os trabalhadores.

O PCB prepara a derrota
A situação caminhava para uma crise revolucionária aberta. O PCB tem cada vez mais dificuldade de frear as massas. A direita e o imperialismo tomam a ofensiva e preparam as condições para uma reorientação do regime na via de uma ditadura policial-militar. A mídia, organizações de direita, a igreja e golpistas no exército passam a agir abertamente com apoio da embaixada dos EUA e da CIA.
Mas Jango, que ainda desfrutava de importante apoio de massas, não combate as provocações. No famoso comício de 13 de março de 1964, centenas de milhares de jovens e trabalhadores levam apoio a Jango, que se compromete novamente com um programa de reformas sociais. Mas nenhuma medida concreta de mobilização é tomada. Multiplicam-se marchas reacionárias e articulações golpistas, enquanto os sindicatos e organizações aguardam uma iniciativa do governo ou das forças que o apóiam. O estalinismo canaliza todas esperanças de liderança para uma suposta burguesia revolucionária e Prestes, secretário-geral do PCB reafirma a submissão a Jango: “O povo veio à rua para perguntar ao presidente se está disposto a colocar-se a frente do processo democrático e revolucionário que avança. O presidente João Goulart, com os atos que assinou e com as palavras que enunciou, disse ao povo brasileiro que quer assumir a liderança do processo democrático em desenvolvimento em nosso país”. (Novos rumos, nº 264, 20 de março de 1964).

O golpe
Entre 25 e 27 de março de 1964, um motim com mais de 1200 marinheiros protesta contra a punição de dirigentes de sua associação, enfrentam oficiais e desarmam a tropa de fuzileiros. As massas esperam um chamado para agir mas é a direita quem toma a iniciativa. Sob orientação direta do imperialismo ianque, os setores mais reacionários do exército e a burguesia desfecham um golpe de Estado certeiro, no último dia de março de 1964. O golpe encontram uma resistência apenas dispersa entre as organizações de massa. A greve geral não sai. O chamado “dispositivo militar” governista se esfumaça. Jango foge sem chamar a resistência.
Alguns dos principais dirigentes operários, camponeses e estudantis são rapidamente presos. Muitos militantes são torturados, presos e demitidos. O exército sofre expurgos.
As limitadas conquistas sociais e nacionais arrancadas nas décadas anteriores são atacadas. A ditadura brasileira logo se transforma em ponta de lança de novos golpes na América Latina. Em novembro de 1964 ,o general Barrientos implanta uma ditadura na Bolívia. No ano seguinte os militares brasileiros ajudam na intervenção na República Dominicana. É o novo dispositivo do imperialismo em andamento.
Não foi a “provocação” aos militares ou à burguesia que motivou o golpe, mas a impossibilidade do movimento de massas avançar de forma independente propostas anti-imperialistas (reforma agrária, nacionalização das empresas), liderando inclusive setores nacionalistas. As massas radicalizadas foram entregues de mãos atadas ao golpismo.
Miguel Alandia

Cronologia
25/08/1961 – renúncia de Jânio Quadros. Jango presidente com regime parlamentarista
novembro de 1961 - 1º Congresso de Trabalhadores Agrícolas defende reforma agrária
Março de 1962 – fundação da Associação de marinheiros e fuzileiros navais
Junho 1962 – renúncia do gabinete Tancredo Neves
julho e setembro de 1962 – greves gerais e crise parlamentar
Agosto 1962 - formação da CGT
6/01/1963 – plebiscito aprova presidencialismo. Jango lança Plano Trienal
13/10/1964 – Comício da Central do Brasil, com Jango no Rio de Janeiro
19 de março – marcha reacionária em São Paulo
25 de março – revolta dos marinheros
31 de março – golpe militar derruba Jango

quarta-feira, 11 de março de 2009

Darwin, o criacionismo e a luta de classes

Darwin, o criacionismo e a luta de classes

Nesse ano comemoram-se os 200 anos do nascimento do cientista inglês Charles Darwin, cuja obra revolucionou a ciência moderna transformando radicalmente a concepção sobre o lugar do ser humano na natureza. Ao lado do marxismo, o darwinismo revolucionou o pensamento humano no século XIX e segue questionando e incomodando os poderes tradicionais e conservadores. Mas por que?

Charles Darwin tornou-se popular após publicar seu livro “A Origem das Espécies” em 1859. A obra revolucionava a forma como se entendia até então o surgimento e desenvolvimento dos seres vivos. O pensamento central de sua teoria da evolução é a seleção natural, que explica o processo através do qual as espécies se diferenciam dando origem a novas espécies. Como escreveu Darwin em outubro de 1838: Por uma longa observação contínua dos hábitos dos animais e plantas, iluminou-me o fato de que sob certas circunstâncias variações favoráveis tenderiam a ser preservadas e variações desfavoráveis tenderiam a ser destruídas. O resultado disso seria a formação de novas espécies.”

A causa que gerava as variações nos organismos era então desconhecida por Darwin. Esse era o ponto fraco de sua teoria. Porém o descoberta dos gens e o desenvolvimento da ciência genética, vieram sanar essa deficiência. As variações que ocorrem nos animais e plantas são agora atribuídas a mutações genéticas aleatórias, que podem ocorrer durante os processos moleculares envolvidos na reprodução entre os seres vivos. Essas modificações são preservadas ou não, de acordo com sua eficiência para a sobrevivência do indivíduo frente às condições de seu meio. É nesse sentido que a natureza seleciona os mais aptos, que terão maior sucesso em se alimentar e se reproduzir.

Darwin, que nasceu em 12 de fevereiro de 1809 na Inglaterra, devia muito de suas descobertas à sua célebre viagem (1831 a 1836) como naturalista do navio Beagle, que tinha como uma de suas principais missões mapear em detalhe o litoral sul do continente sul-americano. Nessa viagem ele passou pelo Brasil, fazendo escalas na Bahia e no Rio de Janeiro e se chocou com a violência da escravidão. Era de uma família rica, o que permitiu que ele passasse anos trabalhando em suas pesquisas com total liberdade e sem pressões políticas ou religiosas. Trabalhou na mesma época em que Marx, um admirador dos seus trabalhos, também na Inglaterra escrevia suas principais obras.

A ebulição da industrialização da Inglaterra, que era o centro do mundo nessa época, era um incentivo para a inovação científica e ajuda a explicar porque um aristocrata como Darwin pode avançar e revolucionar a ciência moderna e questionar o mito da origem divina dos seres vivos. A sugestão de que o homem era uma forma evoluída de primata e não um ser criado por Deus provocou a ira das igrejas. Ele chegou a escrever um novo livro sobre a origem dos homens em 1871 chamado “A Origem do Homem e a Seleção Natural” para defender suas idéias. Darwin morreu em 19 de abril de 1882.

O fato do darwinismo ser atacado até hoje revela que ele exerce um papel na luta de classes. Na época de Darwin amplos setores da burguesia liberal abraçaram sua teoria e a usaram na luta contra o velho feudalismo ainda encravado em regiões da Europa, como privilégios às aristocracias e ao clero que dificultavam o desenvolvimento do capitalismo. Mas isso mudou na passagem para o século XX quando vários autores reacionários buscaram usar as idéias de Darwin para legitimar o capitalismo, o individualismo e a competição, e mesmo o racismo. No Brasil um dos autores que primeiro defendeu as idéias de Darwin contra as posições reacionárias e racistas foi Manuel Bonfim (1868-1932), destacando que o darwinismo justificava as idéias de solidariedade, igualdade e cooperação entre os homens.

O criacionismo

Hoje cresce uma corrente de pensamento, chamada criacionismo, que combate as idéias de Darwin e que possui objetivos que vão muito além das questões religiosas e científicas como busca aparentar. O patrimônio da ciência e da cultura humana e o avanço tecnológico vertiginoso - nas mãos dos capitalistas - estão cada vez mais desligados das necessidades da humanidade e se voltam contra ela. As ciências sofrem um crescente processo de privatização, que vem acompanhado de uma ação para afastar as massas do seu controle. Esse é o papel hoje do criacionismo, que ataca Darwin e tenta se utilizar inclusive se utilizar da ciência para isso. Os esforços para reintroduzir a explicação religiosa nas aulas de ciência é uma ação para impedir o controle social consciente dos trabalhadores sobre a ciência e a cultura e reforçar os instrumentos de alienação das massas. O fato de ter se originado nos Estados Unidos não é fortuito, mas revela o grau de degeneração que o capitalismo mais avançado do planeta busca impor à sociedade. A ciência está sob controle das grandes corporações, que buscam sugar todo o esforço científico criador a serviço de interesses privados como a indústria de armamentos. É a liberdade de pensamento e da ciência permite que as massas trabalhadoras questionem as verdades absolutas e usem a ciência a seu favor.