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sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A ecologia à serviço do capitalismo

A ecologia à serviço do capitalismo

A defesa do meio ambiente contra o aquecimento global parece ter se tornado um grande consenso mundial, acima da luta de classes. Uma conferência mundial patrocinada pela ONU para dezembro discutirá o tema. No Brasil o governo Lula encaminha a revisão do código Florestal e a candidata do partido Verde, senadora Marina Silva, adota a ecologia como seu principal tema de campanha (ver box). Mas todos contornam o principal problema e ameaça ao meio ambiente: a manutenção do capitalismo. As notas abaixo trazem informações para que os trabalhadores e a juventude reflitam e se posicionem.

No Brasil o debate sobre o clima está diretamente ligado a questão da terra, isso porque se calcula que 75% das emissões de gás carbônico venham da devastação florestal. O decreto 6686/2008, que está sendo rediscutido e pode ser revisto, determina que os proprietários apresentem até 11 de dezembro deste ano planos de cumprimento da legislação para recomposição das áreas de preservação de florestas. Na Amazônia isto representa 80% da reserva legal e no restante do país 20% do total da propriedade. Por pressão dos latifundiários o prazo pode ser prorrogado para o meio do ano que vem. Além disso, uma reformulação do Código Florestal de 1965 prevê a criação de um verdadeiro mercado de destruição das florestas, com cotas que poderiam ser compradas por quem desmatou tudo. Por exemplo, um grande plantador de cana-de-açúcar poderia comprar cotas de quem desmatou menos. Hoje existem conhecidas cerca de 5 milhões e 170 mil propriedades rurais no país.

O pacote ambiental (Política Nacional sobre Mudança do Clima) que o governo pretende aprovar, até o final do ano, e que vem sendo comandado pela bancada ruralista, tramita no Senado e foi aprovado em 27 de outubro na Câmara dos deputados. Ele preserva os interesses dos grandes capitalistas do campo (o agronegócio), e na prática cria obstáculos para o avanço da reforma agrária em nome da preservação do meio ambiente. A proposta agrada ao agronegócio porque incentiva o uso dos biocombustíveis (hoje extraído principalmente da soja) e o plantio de árvores não nativas (empresas de celulose, papel) em parte das áreas de reflorestamento, produtos que exigem altos investimentos.

O esforço do governo para aprovar uma nova legislação ambiental está ligado a realização da Conferência Climática patrocinada pela ONU ocorrerá em dezembro na cidade de Copenhague (Dinamarca). Esta tem como objetivo estabelecer novas metas para combater o aquecimento global e aprovar um novo “pacto” global sobre o clima. O governo do Brasil pretende aprovar um mecanismo que preveja que o desmatamento evitado de florestas seja considerado redução de gases que provocam o efeito estufa. Esta medida poderia no futuro gerar créditos em um mercado especulativo de gases poluentes.


O mercado da poluição e o Protocolo de Quioto


O protocolo de Quioto foi adotado por 159 países em dezembro de 1997 e tem o compromisso de 39 países industrializados de reduzir a emissão de seis gases (como o gás carbônico ou CO²) que provocariam o efeito estufa responsável pelo aquecimento global. O protocolo entrou em vigor em fevereiro de 2005. Nos países de economias pouco ou recém industrializadas como Brasil, China e Índia, não foram estabelecidas metas de redução. Com isso, se os preços das cotas para emitir CO² for muito caro para uma indústria na Europa, ela pode simplesmente fechar e ser transferida par ao Brasil em busca de salários mais baixos e sem limites para poluir. Ou seja, a defesa do meio ambiente torna-se uma desculpa para fechar fábricas ou reduzir direitos dos trabalhadores.

A emissão na atmosfera do gás carbônico seria o principal responsável pelo aumento de temperatura? Os cientistas não estão de acordo sobre esta questão, mas decisões já foram tomadas. Os dirigentes da ONU discriminaram e afastaram dos debates os cientistas que não concordavam com a tese de que o aquecimento global era provocado apenas pelas emissões de gases poluentes. Para esses cientistas é muito cedo para comprovar que é o gás carbônico o principal responsável pelas alterações climáticas e o aquecimento global. Eles afirmam que existem muitos fatores que interferem no aquecimento do clima, como a própria água dos oceanos que evapora CO² e lembram que o gás carbônico representa apenas 0,038% da atmosfera. Embora não haja consenso entre os cientistas, os capitalistas perceberam que o debate sobre o efeito estufa e o aquecimento global é uma forma de turbinar seus negócios.

Foi criado um mercado de trocas de cotas de emissão de gás carbônico nos países com indústrias poluentes e esses países estabeleceram metas de redução de CO². Assim, os países e as indústrias têm “direitos de poluição” em toneladas de carbono, que podem trocar ou vender. Criou-se uma falsa solução - um sistema que seria regulado pelos próprios mercados - para que os capitalistas ganhem dinheiro na especulação financeira com a redução dos gases que supostamente provocam o efeito estufa (aquecimento global).

Entidades como o Greenpeace a uma constelação de ONGs ocupam aí todo o seu lugar, disputando verbas da ONU e outros organismos para defender campanhas e sugar recursos dos estados. Reforçam a onda dos “produtos ecológicos” que se utilizam do fantasma do efeito estufa e do aquecimento global para vender mercadorias “limpas”. Campanhas de marketing passaram a vender uma boa imagem das empresas que estariam defendendo o meio ambiente em nome da “responsabilidade social” e do “desenvolvimento sustentável”.

Tenta-se culpar todos igualmente, como se o trabalhador que pega ônibus ou carro para ir trabalhar tivesse a mesma responsabilidade o grande capitalista industrial. Como se o latifundiário que devasta a Amazônia para vender madeira tivesse o mesmo papel que o trabalhador sem-terra que planta para sua sobrevivência. O capitalismo fez com que a relação dos homens com natureza se transformasse hoje em uma relação não só de exploração dos trabalhadores, mas de destruição crescente do meio ambiente.



Marina Silva e o consenso ecológico com a burguesia


Embora afirme discordar da política do governo Lula para o meio ambiente, Marina Silva reforça o discurso ambientalista que não responsabiliza a burguesia e o capitalismo pela degradação do meio ambiente. Como é possível um “desenvolvimento sustentável” mantendo o capitalismo? A burguesia se utiliza da ciência, da técnica, da ecologia não para melhorar as condições de vida dos seres humanos, mas para ampliar a acumulação de capital. Ao sair do PT Marina saiu de um terreno privilegiado de disputa no interior da classe trabalhadora. A sua chapa presidencial tende provavelmente como vice o presidente na empresa de cosméticos Natura é um exemplo concreto da utilidade do discurso ambientalista à serviço da acumulação de capital. A luta ambientalista separada da luta de classes contra o capital torna-se não apenas um discurso diletante, mas um instrumento a serviço dos interesses do capitalismo.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

abramo-sacchetta-jot

 

HOMENAGEM A FÚLVIO ABRAMO E HERMÍNIO SACCHETTA

DIA
19 DE OUTUBRO, SEGUNDA FEIRA 19.30 horas – Auditório Vladimir Herzog do
Sindicato dos Jornalistas – Rua Rego Freitas , 530-  Sobreloja – São
Paulo –

Após o ato haverá pequena confraternização.

 

 

O Combate ao Fascismo

 

No início da década de 1930 no Brasil um grupo de militantes do Rio e de São Paulo combatia o fascismo e trazia ao debate as noticias do terror stalinista que se desenvolvia na União Soviética e nos Partidos Comunistas da europa. Esse grupo se organizava na Liga Comunista Internacionalista –LCI e estava em contato permanente com Leon Trotsky e a Oposição de Esquerda Internacional. Dentre os militantes paulistas figurava  Fúlvio Abramo , um jovem de 24 anos que conseguiu com seus camaradas, num trabalho político de mais de um ano, coesionar numa Frente Única Anti-Fascista dezenas de sindicatos, entidades de imigrantes italianos com a Lega Lombarda, jornais operários de diferentes idiomas, socialistas, anarquistas, comunistas além do apoio de intelectuais e artistas como Anita Malfatti. Essa Frente foi capaz de organizar dezenas de militantes que dispersaram a bala mais de 4 mil integralistas que marchavam uniformizados e armados pelo centro da cidade e que tinham como  objetivo impor a “ordem” fascista nas ruas como ocorrera na Alemanha e Itália.  Foi chamada de “A Batalha da Praça da Sé” e provavelmente é um dos poucos exemplos internacionais do período onde foi construída  a necessária unidade operária e democrática para varrer o fascismo. Nesse mesmo dia, 07 de outubro de 1934, o principal dirigente do PCB de São Paulo, outro jovem de 24 anos, Hermínio Sacchetta, travava já a luta interna contra a direção majoritária do PCB do Rio que impunha o isolamento dos comunistas seguindo a política que levou a derrota dos trabalhadores na Alemanha e em toda a Europa abrindo o caminho para Hitler. Sacchetta vai ser expulso do PCB em 1937 e adere ao trotskismo anos depois. Os dois militantes foram presos pela ditadura Vargas, perseguidos e lançados na clandestinidade.

 

Com a dispersão e crise da IV Internacional nos anos 1950 sua vida desenvolve tragetórias diferentes. Ambos jornalistas respeitados dedicam-se a sua profissão e continuam , na medida do possível, a atividade política. Saccheta mantém um pequeno grupo luxemburguista e nos anos 1960 combate a ditadura ajudando a resistência clandestina. Abramo dirige uma importante greve de jornalistas em 1961. Em 1980 aos 71 anos de idade os dois se encontram na mesa de um ato público em homenagem a Leon Trotsky em São Paulo, organizada por O Trabalho e Convergência Socialista que reúne centenas de jovens militantes que fundaram o PT naquele ano.  Hermínio Sacchetta morre dois anos depois. Fúlvio Abramo vai organizar o Cemap (Centro de Documentação do Movimento Operário Mario Pedrosa) e retoma o laço organizado com a IV Internacional fazendo parte da Direção Nacional de O Trabalho em 1986. Morre em 1993.

 

Ato Público

 

Para retomar os fatos  e homenagear a tragetória militante dos dois camaradas que no dia 19 de outubro, segunda -feira em São Paulo será realizada um ato público pela passagem do centenário de seu nascimento.  Organizado pelos filhos e netas Marcelo e Paula Abramo (vindos especialmente do México para a ocasião),  Vladimir e Paula Sacchetta e pela Corrente O Trabalho do PT – Seção Brasileira da IV Internacional o evento contará com a presença na mesa do professor da USP e crítico literário Antonio Candido, do presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo Guto Camargo, de Dainis Karepovs do Cemap e de Markus Sokol em nome da Direção Nacional de O Trabalho. Apóiam a iniciativa o Sindicato dos Jornalistas e o vereador paulistano do PT Antonio Donato.

 

 

Mais que uma homenagem merecida pelo papel que esses dois camaradas desempenharam em diferentes períodos da história do movimento operário brasileiro o evento deverá traçar o fio de continuidade da luta dessa geração dos anos 1930 com os dias atuais. As condições em que ambos militaram no Brasil colocavam os trotskistas numa condição que invariavelmente  o isolamento e a perseguição stalinista era a marca. Hoje nós trotskistas, apesar das dificuldades, estamos em outro momento, numa condição mais favorável  no combate pela independência de classe e de defesa das organizações dos trabalhadores. Assim esperamos poder estar a altura do esforço dessa geração de militantes como Fúlvio Abramo e Hermínio Sacchetta. Para nós,  sem sombra de dúvida,  é uma grande  honra poder participar dessa homenagem

 




sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Homenagem a Fúlvio Abramo e Hermínio Sacchetta

Venha celebrar o centenário dos militantes Fúlvio Abramo e Hermínio Sacchetta e o 75º aniversário da Batalha da Praça da Sé em um ato-homenagem à sua memória e história de dedicação à luta revolucionária internacionalista.

com Antonio Candido e Dainis Karepovs


SEGUNDA-FEIRA, DIA 19 DE OUTUBRO
A PARTIR DAS 19H30

Auditório Vladimir Herzog,
Sindicato dos Jornalistas
Rua Rego Freitas, 530, sobreloja




FÚLVIO ABRAMO (1909-1993) foi jornalista, agrônomo e militante trotskista. Interessou-se pela luta social a partir da relação com o avô Bôrtolo Scarmagnan, que permitiu-lhe o primeiro contato com o pensamento anarquista. Antes de cumprir vinte anos (1928) conformou, com a irmã, Lélia, e o Azis Simão, um grupo marxista independente do PCB. Pouco tempo depois, fundou, junto com Mário Pedrosa, Lívio Xavier, Aristides Lobo, Hilcar Leite, Rodoldo Coutinho, Rudolf Josip Lauff e João da Costa Pimenta, a Liga Comunista Internacionalista, seção brasileira da Oposição de Esquerda trotskista, chegando a formar parte da sua Comissão Executiva. Fúlvio haveria de permanecer fiel ao trotskismo até o momento da sua morte. Em 1933-34, quando a LCI empenhou-se na luta antifascista, foi diretor do jornal O Homem Livre, porta-voz do antintegralismo, e, depois, foi eleito diretor da Coligação das Organizações Operárias que conformavam a base da Frente Única Antifascista, que conseguiu dispersar os integralistas na histórica "Batalha da Praça da Sé," contra-manifestação armada na Praça da Sé, em São Paulo, no dia 7 de outubro de 1934. Preso em duas ocasiões (1934 e 1935) pelo Estado Novo, viu-se obrigado a fugir para a Bolívia junto com mais três camaradas. Permaneceu na Bolívia até 1946, trabalhando como motorista, cobrador de impostos e professor de Botânica Aplicada. A militância não se deteve no exílio. Com o nome de Marcelo de Abiamo, participou na fundação do Partido Obrero Revolucionario na Bolívia. Em 1961 liderou a greve do Sindicato dos Jornalistas, que conseguiu histórica vitória. Após o golpe, trabalhou provisóriamente como agrônomo numa fazenda de Barretos, SP. Em 1965 conseguiu finalmente voltar à imprensa, com um emprego de redator e repórter na revista Realidade, da Editora Abril; anos depois, trabalhou como redator no Diário do Commércio e na Gazeta de Pinheiros. Nos anos 1980 esteve junto ao movimento de construção do PT e retoma sua militância trotskista participando da Direção Nacional da Corrente O Trabalho do PT, seção brasileira da 4ª Internacional. Dedica seus últimos anos de militância no trabalho de preservação da memória da classe operária como impulsionador do Centro de Documentação do Movimento Operário Mário Pedrosa (CEMAP), hoje sob guarda do CEDEM-Unesp.




HERMÍNIO SACCHETTA (1909 – 1982) foi jornalista e militante trotskysta. Iniciou sua carreria profissional em 1928, como revisor do Correio Paulistano, passando depois por importantes jornais daquela época como a Folha da Manhã, a Folha da Noite, os Diários Associados e O Tempo. Para a militância política entrou em 1932, no Partido Comunista onde se tornou editor do Jornal A Classe Operária, secretário do Comitê Regional São Paulo e membro do Bureau Político. Foi um dos articuladores da greve dos Correios e Telégrafos em dezembro de 1934, caindo a partir daí na clandestinidade. Nesse mesmo ano sob pressão da juventude comunista, entra conflito com a linha do PCB, que não participa da Frente Única Antifascista, e orienta os militantes a participarem da "Batalha da Praça da Sé". Em novembro de 1937, Hermínio, codinome Paulo, em meio a uma luta interna no partido, é acusado de fracionismo trotskista e expulso do PCB. Constitui com o Comitê Regional de São Paulo a Dissidência Pró-Reagrupamento da Vanguarda Revolucionária. É delatado pelo stalinismo ao vivo pela rádio Moscou e preso e quase dois anos depois, quando sai da cadeia torna-se dirigente do recém-fundado Partido Socialista Revolucionário (PSR), então seção brasileira da 4ª Internacional junto com inúmeros camaradas como Febus Gikovate, Alberto da Rocha Barros, Vítor Azevedo, Patricia Galvão (Pagu), Florestan Fernandes, Maurício Tragtenberg entre outros. Ao longo de toda sua vida dedicou-se à militância e ao jornalismo.
Cláudio Abramo, seu companheiro de redação no Jornal de São Paulo, recordaria: “Sacchetta foi durante muitos e muitos anos um dos melhores e mais importantes chefes de redação que o jornalismo de São Paulo produziu. Homem de princípios rígidos, (...) travou sempre com a profissão de jornalista uma batalha árdua e difícil, enfrentando ao mesmo tempo os empregadores e a redação, que ele tentou incansavelmente moldar e domar”


A BATALHA DA PRAÇA DA SÉ - FRENTE ÙNICA ANTIFASCISTA (7 DE OUTUBRO DE 1934) - Também conhecida como "Revoada dos galinhas-verdes" foi o confronto que teve lugar na Praça da Sé, em São Paulo, em 7 de Outubro de 1934. Nesse confronto trotskistas, anarquistas, socialistas, comunistas, sindicalistas organizados na Frente Única Antifascista, se posicionaram contra a realização de uma marcha organizada pela Ação Integralista, organização que congregava correntes reacionárias e fascistas, dirigida por Plínio Salgado. Nesse confronto armado morreu o militante da juventude comunista, Décio Pinto de Oliveira, estudante da Faculdade de Direito de São Paulo, Largo de São Francisco. Décio foi alvejado na cabeça enquanto discursava. Ele passou a ser o símbolo do movimento antifascista brasileiro daqueles anos. Também ferido foi o militante trotskista Mário Pedrosa, enquanto tentava socorrer o jovem militante comunista atingido. Como narrou Lélia Abramo "Enfrentamos, com armas nas mãos ou sem elas, a organização fascista integralista, comandada por Plínio Salgado. Os integralistas estavam todos fardados, bem armados, enquadrados e prontos para uma demonstração de força, protegidos pelas instituições político-militares getulistas e dispostos a tomar o poder. Nós, espalhados ao longo da praça e nas ruas adjacentes, esperamos pacientemente que desfilassem primeiro as crianças, também fardadas, e as mulheres integralistas. Depois disso, quando os asseclas de Plínio iniciaram seu desfile, nós todos avançamos e começou a luta aberta."


Organização:
Corrente O Trabalho do PT, seção brasileira da 4ª Internacional
Marcelo e Paula Abramo
Vladimir e Paula Sacchetta

Apoio:
Gabinete do Vereador Antônio Donato, PT
Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de SP

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