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terça-feira, 9 de outubro de 2012

A morte do historiador Eric Hobsbawn

O historiador Eric Hobsbawn faleceu no último dia 1º de outubro aos 95 anos. Autor de uma vasta obra sobre a História contemporânea, o movimento operário e a cultura, buscou no marxismo referências para seu trabalho e sua atuação como intelectual. Foi militante do Partido comunista inglês e defendeu por longos anos a política stalinista. Embora para Hobsbawn Stálin tenha feito um governo tirânico - do qual ele pouco fala em sua obra “A era dos extremos” - a luta de Trotsky para defender a revolução socialista e a democracia operária, fundando a 4ª Internacional em 1938, foi classificado por ele como um completo “fracasso”, o que não é verdade. Esse silêncio sobre os detalhes do stalinismo ajuda os adversários do marxismo e do socialismo em geral, como se a queda da União soviética em 1989 fosse o fracasso do próprio socialismo e da revolução de 1917. Stálin e toda a sua burocracia tomaram de assalto e destruíram não só a perspectiva da revolução se ampliar, destruíram também os partidos comunistas nos quais militaram milhões de trabalhadores revolucionários honestos durante décadas. A obra de Hobsbawn influenciou e influencia um público geral amplo para além dos historiadores e militantes de esquerda, talvez também pelo estilo leve e muitas vezes generalista de suas análises. A revista Veja o acusou por sua “imperdoável cegueira ideológica” e “esquerdista”, em matéria sobre sua morte. A Associação Nacional de História emitiu nota repudiando a revista e o tratamento desrespeitoso e pejorativo dado ao historiador, ao mesmo tempo em que afirma corretamento: “Nós, historiadores, sabemos que os homens são lembrados com suas contradições, seus erros e seus acertos”. Sua importância inegável como historiador, e principalmente por ter-se assumido sempre como um intelectual de esquerda, torna,por isso mesmo, ainda mais necessária uma leitura crítica das suas posições sobre os momentos cruciais da história do movimento operário e da luta socialista.

A religião usada para dividir os trabalhadores

Nas últimas eleições tem crescido o papel das religiões e sua interferência na vida política. Mas nada ocorre por acaso. Em São Paulo a candidatura de Russomano foi abertamente apoiada pela Igreja Universal e o bispo Edir Macedo, líder desta Igreja, publicou “cinco razões” para não votar no candidato petista a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e cinco para votar em Celso Russomanno (PRB). Parte da cúpula do partido de Russomanno é ligada à Universal, dona da TV Record, onde o candidato atuava como apresentador de um programa sobre direito do consumidor. Na saída de cultos membros da Igreja distribuíram panfletos de apoio a Russomano. A igreja católica também se posicionou e d. Odílo Scherer, cardeal arcebispo de São Paulo, disse que “não é função da igreja apoiar ou indicar candidatos”, mas o arcebispo havia divulgado um texto com críticas ao candidato do PRB. Nas eleições de 2010 a religião também foi usada por parte da cúpula católica para atacar o PT, introduzindo no debate político questões como o aborto e a união estável de homossexuais. Mesmo o papa Bento XVI endossou indiretamente essa posição, falando a bispos brasileiros em Roma, aos quais aconselhou orientar os eleitores a rejeitar pelo voto candidatos e partidos favoráveis ao aborto e à eutanásia. Há também interesses econômicos em jogo. As igrejas formam verdadeiros impérios empresariais, jornais, rádios, escolas, universidades, editoras, capacidade de financiar campanhas políticas milionárias. As cúpulas das igrejas e a burguesia possuem interesses em comum, compartilham negócios. Nas eleições também se disputa esse patrimônio que não é nada espiritual, muito pelo contrário. Na verdade introduzir a questão religiosa nas eleições é uma outra forma de dividir o movimento operário, criar divisões nos sindicatos e nas lutas dos trabalhadores. Além disso, ajuda a desviar o debate que deveria se concentrar nas reivindicações concretas (creches, escolas, emprego..) para temas que dispersam as preocupações “terrenas”. Professar uma religião é um assunto privado, de cada um, e que não se opõe à luta coletiva dos trabalhadores. São as cúpulas das igrejas - que sempre serviram as classes dominantes e a defesa da propriedade privada – que veem com preocupação a iniciativa independente das massas. Quando o PT foi fundado e em seus primeiros anos na década de 1980, uma massa de militantes dos movimentos populares e das comunidades católicas ingressaram no partido. A cúpula da igreja católica tratou de destruir isso pelo retorno da igreja espetáculo, distante da reivindicações populares. A defesa elementar da democracia exige o respeito à liberdade de credos e o estado laico, que não favoreça qualquer religião. O estado deve ser neutro e defender a liberdade, inclusive para assegurar os direitos das religiões ou do ateísmo. A religião na política só interessa àqueles que querem dividir e enfraquecer as organizações construídas pelos trabalhadores como os sindicatos e os partidos, sua unidade, independência e capacidade de lutar pelas reivindicações.