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quarta-feira, 11 de março de 2009

Darwin, o criacionismo e a luta de classes

Darwin, o criacionismo e a luta de classes

Nesse ano comemoram-se os 200 anos do nascimento do cientista inglês Charles Darwin, cuja obra revolucionou a ciência moderna transformando radicalmente a concepção sobre o lugar do ser humano na natureza. Ao lado do marxismo, o darwinismo revolucionou o pensamento humano no século XIX e segue questionando e incomodando os poderes tradicionais e conservadores. Mas por que?

Charles Darwin tornou-se popular após publicar seu livro “A Origem das Espécies” em 1859. A obra revolucionava a forma como se entendia até então o surgimento e desenvolvimento dos seres vivos. O pensamento central de sua teoria da evolução é a seleção natural, que explica o processo através do qual as espécies se diferenciam dando origem a novas espécies. Como escreveu Darwin em outubro de 1838: Por uma longa observação contínua dos hábitos dos animais e plantas, iluminou-me o fato de que sob certas circunstâncias variações favoráveis tenderiam a ser preservadas e variações desfavoráveis tenderiam a ser destruídas. O resultado disso seria a formação de novas espécies.”

A causa que gerava as variações nos organismos era então desconhecida por Darwin. Esse era o ponto fraco de sua teoria. Porém o descoberta dos gens e o desenvolvimento da ciência genética, vieram sanar essa deficiência. As variações que ocorrem nos animais e plantas são agora atribuídas a mutações genéticas aleatórias, que podem ocorrer durante os processos moleculares envolvidos na reprodução entre os seres vivos. Essas modificações são preservadas ou não, de acordo com sua eficiência para a sobrevivência do indivíduo frente às condições de seu meio. É nesse sentido que a natureza seleciona os mais aptos, que terão maior sucesso em se alimentar e se reproduzir.

Darwin, que nasceu em 12 de fevereiro de 1809 na Inglaterra, devia muito de suas descobertas à sua célebre viagem (1831 a 1836) como naturalista do navio Beagle, que tinha como uma de suas principais missões mapear em detalhe o litoral sul do continente sul-americano. Nessa viagem ele passou pelo Brasil, fazendo escalas na Bahia e no Rio de Janeiro e se chocou com a violência da escravidão. Era de uma família rica, o que permitiu que ele passasse anos trabalhando em suas pesquisas com total liberdade e sem pressões políticas ou religiosas. Trabalhou na mesma época em que Marx, um admirador dos seus trabalhos, também na Inglaterra escrevia suas principais obras.

A ebulição da industrialização da Inglaterra, que era o centro do mundo nessa época, era um incentivo para a inovação científica e ajuda a explicar porque um aristocrata como Darwin pode avançar e revolucionar a ciência moderna e questionar o mito da origem divina dos seres vivos. A sugestão de que o homem era uma forma evoluída de primata e não um ser criado por Deus provocou a ira das igrejas. Ele chegou a escrever um novo livro sobre a origem dos homens em 1871 chamado “A Origem do Homem e a Seleção Natural” para defender suas idéias. Darwin morreu em 19 de abril de 1882.

O fato do darwinismo ser atacado até hoje revela que ele exerce um papel na luta de classes. Na época de Darwin amplos setores da burguesia liberal abraçaram sua teoria e a usaram na luta contra o velho feudalismo ainda encravado em regiões da Europa, como privilégios às aristocracias e ao clero que dificultavam o desenvolvimento do capitalismo. Mas isso mudou na passagem para o século XX quando vários autores reacionários buscaram usar as idéias de Darwin para legitimar o capitalismo, o individualismo e a competição, e mesmo o racismo. No Brasil um dos autores que primeiro defendeu as idéias de Darwin contra as posições reacionárias e racistas foi Manuel Bonfim (1868-1932), destacando que o darwinismo justificava as idéias de solidariedade, igualdade e cooperação entre os homens.

O criacionismo

Hoje cresce uma corrente de pensamento, chamada criacionismo, que combate as idéias de Darwin e que possui objetivos que vão muito além das questões religiosas e científicas como busca aparentar. O patrimônio da ciência e da cultura humana e o avanço tecnológico vertiginoso - nas mãos dos capitalistas - estão cada vez mais desligados das necessidades da humanidade e se voltam contra ela. As ciências sofrem um crescente processo de privatização, que vem acompanhado de uma ação para afastar as massas do seu controle. Esse é o papel hoje do criacionismo, que ataca Darwin e tenta se utilizar inclusive se utilizar da ciência para isso. Os esforços para reintroduzir a explicação religiosa nas aulas de ciência é uma ação para impedir o controle social consciente dos trabalhadores sobre a ciência e a cultura e reforçar os instrumentos de alienação das massas. O fato de ter se originado nos Estados Unidos não é fortuito, mas revela o grau de degeneração que o capitalismo mais avançado do planeta busca impor à sociedade. A ciência está sob controle das grandes corporações, que buscam sugar todo o esforço científico criador a serviço de interesses privados como a indústria de armamentos. É a liberdade de pensamento e da ciência permite que as massas trabalhadoras questionem as verdades absolutas e usem a ciência a seu favor.





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