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domingo, 14 de junho de 2009

O massacre da praça Paz Celestial faz 20 anos

O massacre da praça Paz Celestial faz 20 anos


Entre abril de junho de 1989 desenvolveu-se na China um processo revolucionário contra a burocracia que, em associação com os capitalistas, começava a ameaçar mais diretamente as conquistas da revolução chinesa de 1949. Passados vinte anos, as reivindicações dos jovens e operários chineses permanecem vivas e atuais na China de hoje.

Em 15 de abril de 1989 morria o antigo secretário do Partido Comunista (PC) chinês Hu Yao Bang, removido por não ter reprimido as manifestações dos estudantes no inverno de 1986 e que reivindicavam a liberdade de imprensa, de associação e de candidaturas às eleições locais. Desde o dia 16 de abril milhares de estudantes ocuparam a praça Tiannmen ou Paz Celestial com coroas de flores para homenagear Hu. Em 21 de abril mais de 200 000 jovens, trabalhadores, aposentados tomaram a praça, apesar da proibição das manifestações. Em outras grandes cidades ocorria o mesmo. Os manifestantes revoltam-se contra os dirigentes e gritam: “Tremei, corruptos! O povo acorda” Viva a democracia, vida a liberdade!”
Esses são os problemas que oprimem o povo chinês: um regime de opressão, a corrupção, as reformas econômicas que são acompanhadas de uma inflação galopante e as primeiras demissões em massa, o burocratismo e o parasitismo. Um operário chinês dizia: “sem a democracia não poderemos eliminar a corrupção.”
Essa corrupção se desenvolvia e se relacionava com as “reformas” e a abertura econômica, ou seja, a introdução de mecanismos de mercado em uma economia regida pela propriedade social. Foi Deng Xiaoping quem, no final de 1978, lançou essa política. Desde 1984 contavam-se já quatorze cidades nas zonas econômicas especiais destinadas aos investidores estrangeiros. Ali não havia nenhuma regulamentação, nenhuma legislação trabalhista, nenhuma lei. A multiplicação de zonas especiais e outras zonas francas em beneficio dos investidores estrangeiros sustentava toda uma camada social de quadros políticos e administrativos que engordavam na corrupção e parasitismo.
Quanto à inflação, o PC chinês decidira, em agosto de 1988, liberalizar todos os preços em cinco anos, apesar da alta dos preços no varejo em 11% no primeiro trimestre. São esses problemas que conduzem a irrupção da juventude e das massas populares entre abril, maio e junho de 1989.

A burocracia parasita a revolução chinesa

O parasitismo era o objeto de todos os ódios desse grande movimento popular que surgia. O ponto 7 da carta publicada em 21 de abril de 1989 pelo Comitê de Organização dos Estudantes da universidade de Pequim exigia: “que os dirigentes de Estado prestassem contas ao povos e ao país inteiro dos seus ganhos e do seu patrimônio...”
Em 22 de abril os estudantes entram em greve e constituem um sindicato autônomo. O movimento e os sindicatos autônomos ganham outras cidades. Em 26 de abril Deng Xiaoping, que dirigia a China desde 1977 mas já não possuía mais nenhuma função oficial no PC a não ser a comissão militar, se dirige ao secretariado político exigindo a retomada da estabilidade. Em 27 de abril a população de Pequim manifesta-se. Mais de 300.000 pessoas saem às ruas apoiando os estudantes e cantando A Internacional. O 4 de maio é uma festa nacional importante para os chineses e são agora centenas de milhares de pequineses que se manifestam. A polícia se retira antes de tentar impedir os desfiles.

Em 15 de maio, M. Gorbachev, dirigente da ex-União Soviética na época, está em visita oficial a Pequim e é obrigado a passar pela porta de serviço do Palácio do Povo porque a praça Tianmen está ocupada por 150.000 manifestantes que apoiam os 2.000 estudantes em greve de fome. No dia seguinte e nos próximos os operários apoiam massivamente os estudantes e passeatas de 500.000 a 1 milhão de trabalhadores desfilam com bandeiras vermelhas e bandeirolas brancas, muitas penduradas nos carros, ônibus, táxis. Os dirigentes dos sindicatos oficiais exigem a independência dos sindicatos frente ao PC. Várias centenas de jornalistas do “Diário do Povo”, órgão oficial do governo, manifestam-se pelo fim da censura e pela liberade de pensamento. Os militares se manifestam com uniformes. Pequim está em greve geral. No dia 18 de maio o Diário do Povo dá a manchete: “Um milhão de pessoas se manifestam em apoio aos grevistas de fome”.
A crise se desenvolve até na cúpula do PC.

Os burocratas organizam a carnificina

Em 19 de maio a lei marcial é proclamada pelo primeiro ministro Li Peng.
De novo o povo se levanta. Os militares chegam a noite em caminhões para atacar os estudantes da praça Tiannmen e são recebidos com a palavra-de-ordem: “Vocês são o exército do povo e o povo somos nós!” Os destacamentos da polícia formam uma barreira ao exército. A população de Pequim sai às ruas em plena noite. Operários, empregados e dirigentes tomam todos os lugares e leem-se nos ônibus, caminhões, nas casas: “Derrubemos os corruptos”, “O governo teme o povo”, “Os operários de Pequim protegem os estudantes”.
Em 25 de maio ocorre a formação da Associação Autônoma dos Operários de Pequim. Outros sindicatos independentes surgem em outras grandes cidades do país...
A frente do PC e do Estado, Deng Xiaoping consegue, frente a esse período de grande confusão, um acordo com uma maioria de chefes militares e do secretariado político do PC para “esmagar sem vacilar essa agitação”. É a irrupção da classe operária que determinará Deng Xiaoping e Li Peng a lançar a carnificina de Tiannmen, com uma feroz repressão com execuções sumárias e prisões, atingindo em primeira linha os operários, que pagarão o mais pesado tributo. Era o preço que a burocracia chinesa estava e está disposta a pagar para abrir o país ao capitalismo e oferecer a massa de trabalhadores chineses à exploração das multinacionais.

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