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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O 11 de setembro de 1973

Numa terça-feira, 11 de setembro de 1973, um golpe militar sangrento liderado pelo general Augusto Pinochet destruía uma das mais importantes experiências revolucionárias da América Latina. O presidente do Partido Socialista Salvador Allende morreu dentro do palácio presidencial bombardeado pelas forças golpistas. Durante os meses e anos seguintes milhares de trabalhadores jovens foram presos, torturados e executados na tentativa da burguesia de esmagar definitivamente a história de luta do povo chileno. O que aconteceu no Chile para que esta experiência terminasse sem a vitória do socialismo?


Nas eleições de 4 de setembro de 1970 o candidato da UP - Unidade Popular - (uma coligação do partido comunista (PC), do partido socialista (PS), do partido radical e de uma dissidência de esquerda democracia cristã) ganhava as eleições com 36,3 % dos votos. Outros candidatos de partidos da burguesia dividiram o restante dos votos. As massas trabalhadoras organizadas que vinham fortalecendo suas lutas viram na UP o seu governo.

A política de Salvador Allende era a de “buscar o socialismo pela via institucional”, na verdade uma fórmula para enganar as massas e avançar uma política de colaboração do burguesia. A situação do Chile na época era explosiva: ocupações de terras, mobilizações nas cidades contra alta dos preços, o desemprego e o congelamento de salários. A CUT chilena agrupava historicamente setores combativos do proletariado. Nesta situação, governo Allende era o último recurso do partido comunista e do partido socialista para evitar o caminho da revolução socialista. Ao mesmo tempo, para burguesia chilena a vitória da UP era uma derrota, pois abria a via para as mobilizações das massas trabalhadoras. É nessa medida que Allende busca, assim, construir um governo de colaboração de classes com burguesia - apoiado pelas massas e com um programa de reformas parciais - para enfraquecer e desviar a luta revolucionária dos próprios trabalhadores.

A luta de classes não parou com a eleição de Salvador Allende. Os trabalhadores arrancam conquistas como o aumento de salários e congelamento do preço do pão. Ao mesmo tempo o governo busca amarrar os trabalhadores e montas um comitê CUT- ministério da economia para impulsionar Comitês de Produção e que - na prática – passam a atacar toda greve como sendo “contra a moral revolucionária”. No campo as ocupações de terra se chocam com a lentidão do governo e Allende chega a afirmar que "ocupar terras e violar um direito". Nas eleições municipais de abril de 1971 a UP amplia sua representação e conseguem 51% dos votos.


Frente o fortalecimento das mobilizações, apesar da política da unidade popular evitando radicalizar as lutas, a burguesia decide retomar a ofensiva. Empresas dos EUA e a CIA articulam-se a grupos de extrema direita como o "Pátria e Liberdade" para sabotar economia e intimidar o movimento operário. Os trabalhadores reagem e começam a ultrapassaram as direções dos partidos da UP, organizando diretamente iniciativas de defesa: formam-se “cordões industriais” para controlar a produção de fábricas abandonadas pelos patrões, juntas de abastecimento e preços (as JAPs) criadas pelo governo tornam-se verdadeiros comitês populares agrupando associações de moradores, sindicatos e organizações populares nos bairros. Na cidade de Concepción constitui-se uma Assembléia Popular. Muitos sindicatos pedem armas para defender o governo.

A resposta de Allende é pedir recuo dos trabalhadores e abrir espaço para burguesia no governo. Em outubro de 1972 o general Prats passa a integrar o gabinete como ministro do interior. As ações terroristas do grupo Pátria e Liberdade aumentam com assassinatos de lideranças operárias e populares. Mas nas eleições legislativas de março de 1973 a força dos trabalhadores se expressa com 45,4% dos votos em nível nacional. Há um fortalecimento das organizações autônomas dos trabalhadores fora do controle das suas direções tradicionais como o PC e o PS. Como resposta aos bandos fascistas e golpistas mais 700.000 trabalhadores desfilam em junho de 1973 em apoio governo. A burguesia se desespera e no dia 29 de junho ocorre uma tentativa de golpe fracassada. Frente à pouca reação de Allende a burguesia retomar a iniciativa e vota no dia 23 de agosto na Câmara dos deputados a ilegalidade do governo! No dia 24, Allende - na contramão da ruptura revolucionária – tenta mais um gesto de conciliação com a burguesia. Para demonstrar seu repeito à legalidade nomeia como ministro do interior o general Augusto Pinochet. A trama do golpe já está no interior d

o palácio.

Nas ruas das massas se mobilizam. No dia 4 de setembro de 1973 uma gigantesca passeata de mais de 800.000 trabalhadores desfilam pelas ruas em Santiago em uma demonstração de vigor revolucionário. Mas os dirigentes do movimento - o partido comunista e o partido socialista principalmente - bem como Salvador Allende, recusam qualquer caminho que rompa os acordos com burguesia e suas instituições. É a própria burguesia que já não vê sua democracia como barreira segura contra a revolução. O golpe militar 11 de setembro acabou com a utopia da via democrática para o socialismo chileno. A independência do movimento operário e o fortalecimento das suas organizações, longe de qualquer pacto com burguesia, era e continua sendo o caminho para a vitória do socialismo.

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