Todos os grandes do mundo foram vistos em berlim no dia 9 de novembro. Estavam quase todos lá, chefes de estado em exercício, representantes da ONU, da União Europeia... sem esquercer alguns dos veneráveis anciãos que foram os protagonistas, involuntários, dos eventos que abalaram o mundo há vinte anos. Estavam lá G. Bush (pai) dos EUA, M. Gorbatchov (na época dirigente da extinta União Soviética), Kohl (chanceler da Alemanha Ocidental em 1989) para celebrar a “era das “revoluções pacíficas” e o fim da “ameaça” do socialismo. Todos estavam lá, os assassinos do passado como os agentes da antiga Stasi (polícia política da Alemanha Oriental), agora reconvertidos e juntos com os assassinos de hoje, aqueles que agora defendem o reforço das tropas alemãs aos lado dos Estados Unidos no Afeganistão. Tudo sob o patrocínio de Barack Obama, o novo senhor da guerra.
Se eles não puderam evitar render homenagem ao povo alemão, o ator principal dessa transformação, eles tentaram esconder que muitos deles há vinte anos eram contra a reunificação alemã. Esses políticos, burgueses e stalinistas, estavam em acordo para “reformar” a Alemanha Oriental (RDA, República Democrática da Alemanha), de maneira que se pudesse prolongar sob novas formas os Acordos de Yalta e Potsdam no fim da Segunda Guerra (1945).
Todas as facções do aparelho stalinista, do PCUS (Partido Comunista da União Soviética) ao SED (Partido stalinista que dirigia a Alemanha Oriental), unidos para tentar “controlar”, do lado leste, a entrada da economia de mercado com o objetivo de salvar seus privilégios de burocratas e escapar do naufrágio que eles mesmos haviam provocado. Agiam para restaurar o capitalismo e destruir a economia social contra os trabalhadores.
Todos os partidos da burguesia alemã, assim como os dirigentes da social-democracia, que despacharam Oskar Lafontaine com o comitê central do SED (partido social-democrata alemão, reformista) mantinham-se firmes sobre a posição de manter as duas Alemanhas.
Como os pastores protestantes e padres que se aferraram até o dia 9 de novembro à política de “reformas” da RDA.
Mas todo este edifício foi abalado pela formidável irrupção das massas, que recordaram a todos os que haviam esquecido: “Wir sind ein Volk!” (Nós somos um único povo). E se Kohl foi o primeiro a mudar de posição, sabemos que o fez porque se adiasse mais, arriscava-se a tudo explodir. Tudo... a leste e a oeste. A vinte anos o povo alemão reunificava a Alemanha. Certamente, as belas paisagens que o chanceler prometeu ao povo não apareceram. A ditadura policial irrespirável caiu. Mas 80% da indústria do leste da Alemanha foi privatizada, vendida ou destruída. O desemprego cresceu a níveis elevados nos antigos Lander (estados) do leste. Os capitalistas se aproveitaram deste fluxo forçado de mão-obra disponível, provocado pela pilhagem das propriedades sociais do leste e pelo avanço da desregulamentação do trabalho do oeste. Tudo isto é verdade, mas a classe operária alemã está novamente unificada e organizada na poderosa confederação sindical DGB para enfrentar os ataques que se abatem sobre a Alemanha como sobre toda a Europa.
Angela Merkel, atual chanceler da Alemanha, deveria ter triunfado neste 9 de novembro em Berlim. A festa não foi este triunfo. A frágil coalizão de governo (CDU-FDP) entrou em crise com o anúncio de que a empresa automobilistica GM havia recuado da venda da Opel, que era apoiada pelo governo e buscava conter o avanço da crise econômica no país. O governo alemão se viu humilhado por seu amigo, o imperialismo estadunidense. Poucos viram que a aparente ampla vitória de Merkel nas eleições só foi possível graças a enorme abstenção de mais de 6 milhões de eleitores do SPD, tomados de revolta contra a política traidora dos seus dirigentes politicos.
Cronologia dos eventos
1945-1990, do fim da guerra à reunificação da Alemanha
1945 – os aliados da 2ª Guerra (URSS, EUA, Inglaterra e França) decidem na conferência de Ialta e Potsdam dividir a Alemanha em quatro zonas de ocupação. Berlim, situada na zona soviética de ocupação, é também dividida em quatro zonas.
1948 – em plena guerra fria, Stalin decide bloquear Berlim. Os ocidentais decidem organziar uma grande ponte aérea para manter a parte de Berlim isolada.
1949 – constituição dos dois estados alemães. No oeste é proclamada em maio a RFA (República Federal da Alemanha) e o no leste surge a RDA (República Democrática da Alemanha) em 8 de outubro.
16 de junho de 1953 – insurreição operária em Berlim Leste é esmagada
1955-1960 – a fuga de alemães do leste aumenta. Eles fogem da ditadura burocrática e do nível de miséria que aumenta
13-21 agosto de 1961 – sob as ordens dos burocratas stalinistas é construido um muro isolando os dois setores de Berlim
A queda do Muro
9 de outubro de 1989 – 70.000 trabalhadores e jovens se manifestam na cidade de Leipzig dizendo: “Nós somos um único povo”, “abaixo o Muro, eleições livres, democracia”. É a primeira das grandes manifestações que começam em setembro e que vão reunir semana após semana, mais e mais pessoas, estudantes e operários das fábricas em um número crescente de cidades.
16 de outubro de 1989 – 120.000 trabalhadores Leipzig e nas principais cidades do leste se manifestam
23 de outubro – 300.000 se manifestam em Leipzig, 300.000 em Dresden. Milhares seguem para Berlim Leste. Bandeiras vermelhas aparecem nas manifestações. Todos cantam a Internacional.
23 de outubro de 1989 – Erich Honecker, dirigente do país, renúncia e é substituido por outro burocrata, Egon Krenz.
7-9 de novembro de 1989 – dezenas de milhares de berlinenses do leste e do oeste se dirigem ao muro e abrem várias passagens. A polícia do leste não atira e seus dirigentes não aceitam as ordens do governo e das forças de ocupação soviéticas. O muro de berlim havia caído.
3 de outubro de 1989 – conclui-se o tratado de unificação das duas Alemanhas
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