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sábado, 17 de agosto de 2013
O assassinato de Trotsky ocorria 73 anos atrás
Relembrar o assassinato de um velho revolucionário como Leon Trotsky não seria uma ocasião para comemorações. No entanto, não apenas sua obra teórica sobrevive, mas a organização política que ele fundou em 1938 – a 4ª Internacional - está de pé e combatendo contra o capitalismo em todos os cantos do planeta com a mesma energia revolucionária saída do seu nascimento.
Foi no dia 20 de agosto de 1940 na cidade do México que Trotsky foi golpeado pelo assassino stalinista Ramón Mercader. Trotsky havia sido expulso da União Soviética em 1929 após um combate de quatro anos defendendo o retorno da democracia no partido bolchevique, a expansão da revolução internacional a partir da União Soviética e a aceleração da industrialização e planificação econômica socialista. Mas a Revolução Russa de 1917 liderada pelas massas operárias caíra nas mãos de uma camada burocrática liderada por Stálin que buscava sugar as energias da revolução para fins pessoais. A Oposição de Esquerda, com Trotsky, Zinoviev, Kamenev e outros revolucionários combateu lealmente desde o interior do partido contra estas forças e foi brutalmente perseguida ainda na URSS e depois em todo o mundo. Trotsky foi obrigado a impulsionar a luta pela defesa da revolução e da 3ª Internacional Comunista, junto com outros camaradas oposicionistas, em condições cada vez mais difíceis.
No exterior Trotsky organizou a Oposição Internacional de Esquerda para buscar retomar a 3ª Internacional Comunista (IC), que agrupava os partidos comunistas do mundo todo, e era dirigida agora pela ditadura de Stálin. Grupos da Oposição Internacional se articularam nos principais partidos comunistas. No Brasil Mário Pedrosa encabeça o primeiro grupo oposicionista dentro do PCB. Mas rompendo todas as tradições democráticas do movimento operário, o stalinismo desencadeou uma campanha brutal para destruir política e fisicamente os militantes que não aceitassem cegamente as ordens de Moscou. A Oposição sobreviveu, mas milhares de militantes comunistas foram expulsos dos partidos comunistas, muitos apenas por mera simpatia pelas teses da Oposição. Ao mesmo tempo não se pode esquecer que o stalinismo que esmagava a democracia operária e falsificava a própria História da revolução para enaltecer Stálin por exemplo, tinha ao seu lado a máquina do Estado soviético, milhares de funcionários do partido e o prestígio da revolução de Outubro. A defesa dos privilégios dos burocratas e funcionários de alto escalão contra a expansão da própria revolução socialista, era a base material que explicava o stalinismo. A política da Internacional e da URSS caminha não no sentido de expandir a revolução e derrotar o capitalismo, mas de preservar os interesses da burocracia stalinista. Escondido sob o manto da revolução, o stalinismo enganou e manipulou várias gerações de honestos e sérios revolucionários em todo o mundo. O livre debate no interior dos partidos comunistas poderia ter desmascarado esta situação, por isso a fúria contra as propostas de democracia operária e os oposicionistas.
Estes debates ocorriam em pleno início da década de 1930, quando o mundo era varrido pela maior crise do capitalismo até então. O capitalismo estava a beira do precipício e milhões de trabalhadores estavam desempregados. A classe operária sofria golpes crescentes das burguesias e os sindicatos perdiam membros. Nas grandes economias capitalistas a unidade operária tornava-se uma questão de sobrevivência e defesa. O fascismo que crescia – como Mussolini na Itália, Hitler na Alemanha - era um sintoma do desespero de camadas crescentes das camadas conservadoras das pequenas burguesias e uma resposta para tentar destruir a ameaça do movimento operário e da revolução. Trotsky estudou esta situação no livro Revolução e contra-revolução na Alemanha e propôs a unidade operária dos grandes partidos socialista e comunista alemão, a frente única, como única saída para impedir a ascensão do nazismo.
Mas em 1933 a Oposição de Esquerda teve que fazer um balanço da ascensão do nazismo na Alemanha. A política de divisão dos operários dirigida pelo stalinismo dividiu conscientemente a classe operária, se opondo à unidade com os socialistas proposta pela Oposição Internacional. O Partido Comunista mais poderoso da Europa não reagiu à política criminosa de Stálin que ajudara a dividir a classe operária alemã e facilitar o caminho de Hitler. Para a Oposição de Esquerda a 3ª IC estava morta para a revolução e era preciso se lançar – em condições extremamente difíceis - à tarefa de construir um novo partido internacional.
Em 1938 foi então fundada a 4ª Internacional com a responsabilidade principal de preservar a herança política da Revolução Russa para as futuras gerações. Como afirma seu texto fundador – o Programa de Transição – "a crise da humanidade se resume à crise da direção revolucionária". As condições objetivas para a revolução socialista estão dadas e é necessário construir uma nova direção revolucionária. Sem o socialismo a humanidade está ameaçada de ser arrastada à barbárie pela permanência do capitalismo.
O objetivo da máquina stalinista eliminando Trotsky era o de liquidar com esse fio de continuidade da Revolução de Outubro de 1917 e a possibilidade de que com a nova guerra se pudesse novamente abrir uma vaga revolucionária em todo o mundo tendo a frente uma experiente vanguarda.
Hoje nas condições de crise do capitalismo, provocando o desemprego e a miséria de milhões de seres humanos, continua mais do que nunca atual a luta para unir a classe operária e suas organizações de forma independente contra o capitalismo e a burguesia. Este segue sendo o objetivo central das seções da 4ª Internacional em todo o mundo e a melhor homenagem que o velho revolucionário Leon Trotsky poderia receber.
terça-feira, 9 de outubro de 2012
A morte do historiador Eric Hobsbawn
O historiador Eric Hobsbawn faleceu no último dia 1º de outubro aos 95 anos. Autor de uma vasta obra sobre a História contemporânea, o movimento operário e a cultura, buscou no marxismo referências para seu trabalho e sua atuação como intelectual. Foi militante do Partido comunista inglês e defendeu por longos anos a política stalinista. Embora para Hobsbawn Stálin tenha feito um governo tirânico - do qual ele pouco fala em sua obra “A era dos extremos” - a luta de Trotsky para defender a revolução socialista e a democracia operária, fundando a 4ª Internacional em 1938, foi classificado por ele como um completo “fracasso”, o que não é verdade.
Esse silêncio sobre os detalhes do stalinismo ajuda os adversários do marxismo e do socialismo em geral, como se a queda da União soviética em 1989 fosse o fracasso do próprio socialismo e da revolução de 1917. Stálin e toda a sua burocracia tomaram de assalto e destruíram não só a perspectiva da revolução se ampliar, destruíram também os partidos comunistas nos quais militaram milhões de trabalhadores revolucionários honestos durante décadas.
A obra de Hobsbawn influenciou e influencia um público geral amplo para além dos historiadores e militantes de esquerda, talvez também pelo estilo leve e muitas vezes generalista de suas análises. A revista Veja o acusou por sua “imperdoável cegueira ideológica” e “esquerdista”, em matéria sobre sua morte. A Associação Nacional de História emitiu nota repudiando a revista e o tratamento desrespeitoso e pejorativo dado ao historiador, ao mesmo tempo em que afirma corretamento: “Nós, historiadores, sabemos que os homens são lembrados com suas contradições, seus erros e seus acertos”. Sua importância inegável como historiador, e principalmente por ter-se assumido sempre como um intelectual de esquerda, torna,por isso mesmo, ainda mais necessária uma leitura crítica das suas posições sobre os momentos cruciais da história do movimento operário e da luta socialista.
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